Governo francês abre a porta a resgate à PSA Peugeot Citroën

Estado francês pode entrar no capital do grupo automóvel, admite o ministro do Orçamento. Primeiro-ministro é mais cauteloso e afasta resgate para já.

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Jacky Naegelen/Reuters

Uma nuvem carregada de incerteza volta a pairar sobre o futuro da PSA Peugeot Citroën. A situação financeira do primeiro fabricante automóvel francês está a colocar o Governo francês sob pressão quanto a uma eventual entrada do Estado no capital da empresa.

O cenário de um resgate financeiro voltou ao debate em França depois de o grupo controlado pela família Peugeot assumir uma depreciação de activos de 4700 milhões de euros. Relançado o debate, pelo jornal Libération, sobre o papel do Estado na indústria francesa, o Governo falou nesta sexta-feira a várias vozes sobre a PSA, revelando as fissuras no interior do executivo socialista quanto a uma solução que obrigasse a uma intervenção estatal.

O ministro com a pasta do Orçamento, Jérôme Cahuzac, admitiu esta manhã essa possibilidade, mas duas horas mais tarde o cenário era afastado pelo ministro da Economia e Finanças, Pierre Moscovici.

Quando, na rádio BFMTV, o primeiro governante foi questionado sobre a hipótese de resgate levantada pelo Libération, respondeu: “Sejamos claros, esta empresa não pode, não deve desaparecer”. E uma intervenção “é possível”, assumiu, porque existe o Fundo Estratégico de Investimento (FEI). Se este entrar no capital “desta empresa, de uma forma ou de outra, é o Estado que entra”.

Se Jérôme Cahuzac abriu a porta a um resgate, Pierre Moscovici fazia outra leitura das palavras do colega de Governo. “Jérôme Cahuzac pronunciou-se sobre um cenário teórico e sobre os mecanismos à disposição do Estado”, cita a AFP. “A participação do Estado no capital da PSA não está na ordem do dia”. E uma entrada no capital “não é necessária”, acrescentou.

O primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, foi igualmente cauteloso. “Se se trata de uma participação no capital desta empresa, não está na ordem do dia, porque a PSA não a solicitou. Existe um mecanismo, o FEI, que pode, se necessário, participar no capital”.

Gigante da produção automóvel, fabricante número um em França (onde emprega cerca de 100 mil pessoas) e segundo na Europa, o grupo PSA é a ponta visível de um sector em agonia com a crise financeira na zona euro.

A dias de apresentar as contas de 2012, o grupo anunciou, na quinta-feira, uma depreciação de 4700 milhões de euros, num ano em que terá registado prejuízos históricos. A fabricante vai avançar com despedimentos em massa nos próximos anos e o encerramento em 2014 da fábrica em Aulnay, perto de Paris.

Um resgate financeiro estará em discussão no interior do Governo, segundo a imprensa francesa. Mas este é um cenário que, refere a AFP, não agrada ao principal accionista, a família Peugeot (com uma participação de 25,4% e de 38,1% de direitos de voto), a quem, aliás, o Governo lançou críticas quando o grupo anunciou a reestruturação e a vaga de despedimentos.

Ao revelar agora uma desvalorização em massa dos seus activos, a PSA Peugeot Citroën parece revelar-se um doente em estado grave, segundo a imagem que o Libération escolheu para sintetizar a situação daquele que é um dos símbolos da industrialização francesa – agora da desindustrialização.
 
 

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