Galp reduz em 1500 milhões o investimento previsto para os próximos anos

Situação da Petrobras atrasa calendário dos projectos no Brasil. Galp admite queda no resultado operacional.

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Petrolífera antecipou crescimento anual médio da produção de petróleo e gás entre 25% e 30% no período 2014 a 2020 Rui Gaudêncio

A situação da Petrobras, parceira da Galp para os projectos de produção de petróleo no pré-sal brasileiro, obriga a “prudência adicional” na programação dos investimentos. Essa foi uma das principais mensagens que a equipa de gestão liderada por Manuel Ferreira de Oliveira deixou aos analistas, investidores e gestores de fundos internacionais a quem foi revelado que a empresa vai reduzir em 20% o investimento anteriormente estimado para os próximos anos.

Contas feitas, serão cerca de 1,5 mil milhões de euros a menos face aos oito mil milhões de investimento previstos no anterior plano estratégico, apresentado em Março de 2014. Até 2019, o investimento médio anual da Galp deverá situar-se entre 1200 milhões e 1400 milhões de euros (abaixo da média anual de 1600 milhões/ano prevista anteriormente). Este ano o investimento oscilará entre 1300 milhões a 1500 milhões.

“Num ambiente difícil para a nossa indústria, o pior que podíamos fazer era vir usar linguagem optimista”, disse o presidente da Galp num encontro que se seguiu com jornalistas a propósito da apresentação da nova estratégia aos investidores. Aquilo que a empresa apresentou “foram premissas conservadoras” para garantir que, “aconteça o que acontecer, está preparada” para cumprir, adiantou Ferreira de Oliveira.

Os gestores da Galp põem a tónica na recalendarização do investimento e rejeitam falar em corte. “Cai menos investimento no período, mas não há nenhum investimento que tenha sido eliminado”, sublinhou o administrador financeiro, Filipe Silva. O que há é uma “reprogramação de actividades de produção e exploração”, garantiu. No plano apresentado no ano passado, a Galp previa que 90% do investimento anual de 1600 milhões previsto até 2018 fosse canalizado para os projectos de produção de petróleo e o restante na actividade de refinaria. Nas metas divulgadas esta terça-feira, a empresa mantém a fatia de leão destinada aos projectos do Brasil e de gás natural na Bacia de Rovuma, em Moçambique (e no desenvolvimento de novos projectos em Angola), mas admite que nestes dois mercados os projectos de produção atrasem em média um ano.

Na apresentação dos resultados anuais, em Fevereiro, Manuel Ferreira de Oliveira já tinha garantido que a Galp não estava distraída face ao que se passava no sector. Mas se entre as petrolíferas foi essencialmente a descida acentuada dos preços do crude que levou as empresas a reverem ou cancelarem projectos, no caso da Galp, há outra variável de peso: a situação conturbada da Petrobras, apanhada numa teia de corrupção com consequências que ainda não são totalmente conhecidas, mas cujos efeitos visíveis também passaram pela falência de várias empresas fornecedoras e prestadoras de serviços. São essas falências que vão motivar os atrasos das seis unidades de produção que a Galp tem em construção no Brasil, explicou Ferreira de Oliveira. “Atrasa-se a produção, mas atrasa-se também o investimento”, adiantou o gestor, admitindo que, com a cotação do crude em baixa, “se tivesse de escolher um momento para o atraso”, este não é o pior. Para além dos atrasos nos campos brasileiros de Iara e Carcará, no projecto moçambicano, a Galp está ainda a analisar alternativas de engenharia para os projectos de construção dos terminais de liquefacção de gás.

A Galp sublinha que o desenvolvimento destes projectos “deverá levar a um crescimento de anual médio da produção de petróleo e gás da Galp Energia entre 25%-30%” entre 2014 a 2020. “Uma taxa impar no sector”, refere a empresa. Segundo a Galp, em 2014 “as reservas aumentaram 10% para 638 milhões de barris de óleo equivalente em resultado das actividades de desenvolvimento em Lula/Iracema [Brasil], e da decisão final de investimento no Bloco32, em Angola”. Actualmente, a Galp tem cinco unidades de produção de petróleo em funcionamento, das quais três no Brasil e duas em Angola.

A petrolífera adianta que a taxa média de crescimento anual do EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) estará acima dos 20% entre 2014 e 2019, quando a meta apresentada no ano anterior apontava para um crescimento médio anual de 25%. “Para 2015 o EBITDA estimado “deverá situar-se previsivelmente entre 1,1 mil milhões e 1,3 mil milhões, potencialmente inferior ao registado em 2014 por efeito da revisão do preço do petróleo”, adiantou a Galp. Esta estimativa toma como base um preço do petróleo nos 55 dólares em 2015, aumentando gradualmente para 80 dólares em 2019.

Na apresentação aos investidores a Galp referiu ainda que os grandes projectos (como Lula/Iracema) vão começar a precisar de menor investimento e adianta que estará focada nos ganhos de eficiência. A empresa refere mesmo que os custos técnicos de produção (os que não incluem impostos, nem as taxas pagas aos Estados) por barril deverão cair dos 27 para os 22 dólares nos próximos cinco anos graças à escala dos projectos.

A Galp “reafirma o compromisso de manter uma estrutura de capital sólida”, prevendo atingir um rácio de dívida líquida sobre o EBITDA de duas vezes em 2016, “diminuindo rapidamente a partir daí”. A empresa, que antes esperava atingir um cash flow positivo durante 2017, agora aponta esse cenário para 2018, “assumindo que o preço do petróleo estará em recuperação e atingirá os 80 dólares em 2019. Para 2014, a Galp propõe um dividendo de 0,3456 por acção, um aumento de 20% face ao exercício anterior, do qual metade já foi pago em Setembro.

Questionado sobre se a contribuição extraordinária sobre o sector energético motivou algumas questões de investidores e analistas, o presidente da Galp foi categórico: “Eu tenho vergonha de falar dessa legislação fora do país. Deixamos a desunião para dentro do país”. E mais uma vez reiterou a intenção da empresa de recorrer aos tribunais. “A Galp energia cumpre as leis da república portuguesa, mas também as usa para expor e fazer valer os seus direitos”, afirmou.

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