…E se o BCE não agir?!

De Março a Abril, a inflação na zona euro registou uma ligeira subida, de 0,5% para 0,7%. Ou seja, a zona euro continua com níveis de inflação muito abaixo do objectivo do BCE (quase 2%). Apesar de reduzido, o risco de deflação persiste, o que não deixa de potenciar a estagnação da economia. Draghi tem afirmado que o BCE tomará decisões para evitar inflação demasiado baixa por um período muito prolongado. O que fará? Possivelmente, nova descida da taxa de juro de referência (0,25%, hoje), ou cedência ilimitada de liquidez aos bancos, ou compra de títulos de dívida no mercado secundário. Para esta semana, aguardemos pelas decisões do BCE, pressionado a agir para manter a estabilidade dos preços após quatro meses seguidos de inflação abaixo de 1%. Convém lembrar que o Bundesbank limitará sempre qualquer acção mais heterodoxa. É nesta conjuntura que se compreende a euforia em torno das obrigações soberanas dos países do Sul. As yield das obrigações atingem mínimos históricos ou estão nessa vizinhança, quer nas operações sindicadas da Grécia, quer nos leilões, da Irlanda, Itália e mais recentemente na colocação de dívida portuguesa e espanhola. Portugal até pode ver facilitada a “saída limpa”. O que torna sedutoras as afirmações de que a crise do euro acabou, que os sacrifícios valeram a pena e que as yield baixam prenunciando investimento e crescimento. Tentações enganadoras, que se desfazem num piparote, pelo efeito da bola de neve. Com preços a cair, adiam-se decisões de compra, na expectativa que desçam ainda mais, a procura cai, a oferta retrai-se, aumentam stocks, diminui a produção, reduz-se a actividade, os salários também e aumentam os desempregados. A “aritmética cruel” da deflação é implacável, deverá ser combatida antes de acontecer, sob pena de reacender a crise da dívida soberana.

Economista
 

  

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