Derrapagem na obra do canal do Panamá deveu-se a erros no caderno de encargos

Derrapagem chegou aos 1600 milhões de dólares e quase levou à suspensão dos trabalhos de alargamento. Sacyr aponta ao dedo a informações técnicas incorrectas.

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A empresa líder do Grupo Unidos pelo Canal (GUPC) atribui a responsabilidade da derrapagem de custos, na obra de alargamento do canal do Panamá, às informações ineficientes fornecidas ao consórcio nas especificações do caderno de encargos.

Num documento de oito páginas enviado na sexta-feira ao regulador da bolsa de valores espanhola, citado pelo El País, a empresa Sacyr detalhou a intenção de solicitar 1600 milhões de dólares (cerca de 1172 milhões de euros) em custos extra, correspondentes ao que diz ser as especificações inadequadas fornecidas pela Autoridade do Canal do Panamá (ACP).

No início deste mês o GUPC ameaçou com a suspensão da obra de alargamento do canal do Panamá, a partir do dia 20 de Janeiro, um dos maiores contratos de construção do mundo, caso a ACP não avançasse com uma injecção de 784 milhões de dólares (cerca de 577 milhões de euros).

A Sacyr salienta que, ao longo de cinco meses, pediu repetidamente à ACP que iniciassem um diálogo construtivo sobre os sobrecustos que, diz, terem surgido após o início da obra.

"A derrapagem que está a ser contestada corresponde a situações que surgiram depois do trabalho começar, quando se verificou incorrecções nas informações fornecidas ao consórcio para a execução do projecto", afirma a empresa espanhola, segundo a agência Reuters. A empresa acrescenta que em Março o operador do canal e especialistas internacionais auditaram a ultrapassagem dos custos orçamentados dizendo que esta era "real, razoável e em linha com o mercado."

Entre as principais despesas extra apresentadas pela Sacyr estão 120 milhões de dólares (cerca de 88 milhões de euros), que se devem a incorrecções das informações geológicas constantes no contrato e que obrigaram à construção de uma represa temporária, do lado do Pacífico.

Outros 497 milhões de dólares (cerca de 364 milhões de euros) são relativos à descoberta de que o basalto encontrado no local, em contradição com as informações fornecidas aquando do concurso, não servia para a mistura de betão, o que forçou à localização e exploração de novas fontes de basalto por parte do GUPC.

Os últimos 880 milhões de dólares (cerca de 645 milhões de euros), para além de problemas com a constituição do betão, dizem respeito a "alterações irreversíveis e fundamentais" ao projecto original feito pela ACP, segundo a Reuters.

Na passada sexta-feira em entrevista à Reuters, o Presidente da Sacyr, Manuel Manrique disse que a empresa está a fazer progressos nas negociações com o operador do canal sobre o financiamento do projecto para evitar a paralisação. A Sacyr disse que as garantias que providenciou no contrato valiam 446 milhões de dólares (cerca de 327 milhões de euros), a partir de 31 de Dezembro de 2013, e que fez pagamentos adiantados no valor de 128 milhões de dólares (cerca de 94 milhões de euros).

A empresa disse também que registou em 2012 lucros de 665 milhões de dólares (cerca de 487 milhões de euros) com base numa sobrestimação de custos que ainda não tinham sido pagos, mas que espera ainda descontar. O presidente da empresa líder do consórcio acrescentou que não registou lucro adicional vinculado às condições do contrato desde o dia 30 de Setembro de 2013.

O consórcio, que teve um prejuízo de 289 milhões de dólares (cerca de 212 milhões de euros) em 2012, recebeu até agora mais de 2000 milhões de dólares (mais de 1500 milhões de euros) referentes ao trabalho que já está completo, bem como 784 milhões de dólares (cerca de 574 milhões de euros) em pagamentos antecipados.

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