Credores aprovam fim da Moviflor

Total de dívidas apuradas já chega aos 128 milhões de euros. Reaver dinheiro será difícil, admite o administrador de insolvência

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Credores decidiram encerrar a actividade da Moviflor Rui Gaudêncio

Os credores da Moviflor aprovaram, nesta quarta-feira, o encerramento da empresa de mobiliário e a venda do escasso património que resta. Até agora, o total de dívidas apuradas chega aos 128 milhões de euros, mas os valores ainda não são definitivos.

Numa sala de audiências a abarrotar – que levou o juiz a pedir aos trabalhadores com dívidas inferiores a dez mil euros para se retirarem – Pedro Ortins de Bettencourt, administrador de insolvência, deixou desde logo claro que as hipóteses de recuperação do negócio eram nulas. “Viabilidade da empresa? Nenhuma, como é óbvio”, disse, durante a apresentação do seu relatório – documento obrigatório que inclui a análise da contabilidade da Moviflor, agora denominada Albará.

“Estamos perante um gigante que cresceu além do que deveria e sem o devido suporte. Na prática, muitas das lojas estavam esvaziadas. O que ficou, além de um conjunto de monos, são móveis incompletos. E houve um esforço de liquidação dias antes do encerramento”, contou. Tal como o PÚBLICO noticiou, os donos da Moviflor retiraram material no valor de mais de 1,9 milhões de euros, que posteriormente colocaram à venda num estabelecimento com o nome Outlet de Móveis, localizado na Bobadela e onde antes existia uma loja da cadeia de mobiliário. Este estabelecimento era propriedade de um accionista da Moviflor.

Os produtos ainda mantinham as etiquetas da empresa de mobiliário e foram vendidos à IFC, cujo administrador único é Carlos Alberto Jesus Ribeiro, que até 4 de Agosto de 2014 foi dono da Moviflor SGPS, a holding que detém 75% da Moviflor Angola. Carlos Ribeiro também é identificado como companheiro de há vários anos de Catarina Remígio, fundadora da empresa portuguesa, com quem partilha residência.

O stock, incluindo viaturas e computadores, foi vendido à IFC pela Moviflor por 20% do seu valor, o que equivale, pelos dados avançados por Pedro Bettencourt, a cerca de 468 mil euros. Contudo, nas guias de transporte que comprovam esta transacção o montante que consta é de apenas 180 mil euros. Todos estes números estão muito distantes do valor contabilístico do material: 1.902.603 milhões de euros.

A diferença abissal de montantes é explicada pelo administrador de insolvência com a descida do valor de mercado da mercadoria, a maior parte, de exposição. “A dois dias do encerramento [em Outubro] tentou-se vender tudo. De acordo com a leiloeira que avaliou os activos, é mercadoria de exposição. E esta mercadoria não tem agora o mesmo valor de mercado. Se a quisesse vender num leilão não conseguiria aquele valor”, afirmou.

Pedro Bettencourt admite que, apesar de escasso, o valor a que os móveis foram vendidos até era equilibrado. O problema é que a administração da Moviflor “deu indicações para processar os pagamentos não para os credores, mas para a satisfação de créditos dos accionistas”. Ou seja, as receitas obtidas com esta venda foram imputadas nas contas correntes de um accionista (Carlos Coelho, filho de Catarina Remígio), “favorecendo um credor relativamente a todos os outros”.

Numa tentativa de recuperar dinheiro, o gestor judicial reuniu com a IFC com quem acertou o pagamento dos 180 mil euros registados nas guias de transporte. “Foi proposto pagarem em seis prestações iguais entre Janeiro e Junho. Ontem transferiram a primeira, de 12 mil euros, o único dinheiro que conseguiram”, revelou, acrescentando que a dona do Outlet de Móveis ainda tentou ficar com produtos da loja do Porto.

Certo é que o património da empresa é escasso, impedindo o Estado, bancos, trabalhadores, fornecedores e clientes de reaverem os seus créditos. E à volta da gestão da Moviflor pairam várias dúvidas. Algumas das lojas estavam em nome dos accionistas, incluindo filhos de Catarina Remígio, mas a sua construção e aquisição era paga pela empresa. Jorge Gaspar, advogado que representa 29 trabalhadores do Fundão, alertou para o “risco do património ser transferido para terceiros, o que poderá dificultar a sua recuperação”.

A palavra “insolvência culposa” soou algumas vezes na assembleia de credores. Ouvia-se entre os trabalhadores, visivelmente revoltados com a situação em que se encontram. Contudo, este cenário só será analisado quando estiverem apurados todos os elementos.

Para já, foi constituída uma comissão de credores, presidida pelo Banif, o banco a quem a Albará/Moviflor mais deve dinheiro. Nesta comissão, estão ainda o BCP, um representante dos trabalhadores, outro dos fornecedores e a Autoridade Tributária e Aduaneira. O Técnico Oficial de Contas da Moviflor, através da sua advogada, quis fazer parte da comissão, mas o seu nome foi chumbado em peso pelos credores.

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