CP põe à venda sede no Rossio por 20 milhões de euros

Depois de pagar, comprador terá de esperar três anos para que a empresa faça a mudança para novas instalações.

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O terreno da CP, que confina com a Calçada do Duque e a Calçada da Glória, tem sete edifícios Guilherme Marques

Vinte milhões de euros é o preço de referência da CP para a venda do complexo do Rossio, onde a empresa está sediada, e que inclui uma área de 13.930 metros quadrados com uma área bruta de construção de 12.634 metros quadrados.

O terreno, que confina com a Calçada do Duque e a Calçada da Glória, tem sete edifícios onde trabalham cerca de 250 pessoas, que terão de mudar-se para Campolide caso se concretize o projecto do conselho de administração em transferir para junto daquela estação a sede da empresa.

A CP impõe como regra neste negócio que o comprador terá de pagar primeiro e esperar três anos até poder tomar posse dos edifícios sem obter com isso qualquer contrapartida financeira. Desta forma a empresa financia a operação de adaptação das instalações que possui em Campolide para ali instalar a sede.

Numa comunicação aos trabalhadores da empresa, a CP recorda que esta já é uma ideia antiga de anteriores conselhos de administração e justifica-a pelos elevados custos de manutenção “de um edifício-sede sobredimensionado para as actuais necessidades e localizado na zona nobre de Lisboa”. 

A empresa diz ainda que só não avançou antes com este projecto porque “aguardou-se a recuperação do sector imobiliário para maximizar os proveitos financeiros decorrentes desta transferência”.

O património em venda tem condições para ser transformada numa unidade hoteleira ou num condomínio fechado, dada a sua localização privilegiada.

Esta intenção já tinha sido aventada pelo anterior presidente da CP, José Benoliel, e noticiada pelo PÚBLICO, com a diferença de que, nessa altura, o objectivo era ocupar os antigos terrenos da Sorefame (e mais tarde Bombardier) na Amadora, que a empresa tinha sido obrigada a comprar por seis milhões de euros pela então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, a fim de ali instalar uma fábrica de vagões que nunca se concretizou.

Já nessa altura, outra das razões aduzidas era a de tentar modernizar a cultura da empresa, dado que no Rossio a maioria dos quadros trabalha em gabinetes fechados que se estendem ao longo de corredores imensos. Uma situação que não é considerada compatível com uma gestão moderna em que os quadros técnicos devem trabalhar em espaços mais abertos, cruzando-se e interagindo mais.

Em Campolide, segundo a CP, está já em curso um projecto de intervenção com o acompanhamento da Ordem dos Arquitectos para transformar o imóvel ali existente na nova sede.

Quem não está de acordo com esta venda é a Comissão de Trabalhadores da CP - que também tem a sua sede no Rossio - e que já escreveu ao ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, dizendo que esta tentativa de venda é um “atentado à dimensão simbólica da cultura e da história dos caminhos-de-ferro portugueses” e que “nenhum valor pecuniário estará à altura do valor simbólico da sede da CP”.

Os trabalhadores dizem ainda que três anos não serão suficientes para viabilizar qualquer alternativa à actual sede, onde a CP está instalada desde 1927. 

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