Autor do livro "Renovar o Montepio" apela a gestão mais democrática para recuperar confiança

António Godinho defende a separação entre a associação mutualista e a caixa económica.

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Balcão tinha menos 21 balcões no trimestre passado Jonatas Luzia/arquivo

O Montepio tem sido gerido de forma pouco democrática, acusa António Godinho, um dos autores do livro "Renovar o Montepio", criticando também a actuação tardia dos reguladores relativamente à separação entre a associação mutualista e o banco.

A obra, que vai ser hoje apresentada em Lisboa, pretende lançar "pistas" sobre a situação actual e futura do banco, diz António Godinho, fundador e administrador da empresa de franchising de serviços Onebiz, que escreveu o livro em co-autoria com Alexandre Abrantes, professor da Universidade Nova de Lisboa e consultor do Banco Mundial.

"Somos ambos associados e acompanhamos muito de perto a vida do Montepio", afirmou António Godinho, manifestando "grande preocupação" com "o clima de instabilidade que se abateu sobre a instituição" nos últimos meses e que foi um dos motivos que o levaram a escrever o livro.

António Godinho defende a criação de mecanismos de separação, controlo e articulação entre a associação mutualista e a caixa económica, para "inspirar confiança no mercado" e considera que as mudanças propostas pelo Banco de Portugal (separação da administração da mutualista e do seu braço financeiro) deviam ter acontecido há mais tempo.

"Aplica-se tardiamente agora o que já era muito claro que tem de ser mudado", comentou o gestor, lembrando que já se falava destas alterações desde 2012.

"Quando se discute na praça pública tanto tempo cria-se esta instabilidade e estas dúvidas e aqui também o regulador e o poder legislativo também contribuíram para este clima, que é completamente inusitado", criticou António Godinho, que iniciou a sua carreira profissional na Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), antes de se tornar empresário.

Apelando à renovação, António Godinho sublinhou que o processo de escolha dos órgãos sociais devia envolver mais os associados e não ser apenas determinado por quem já lá está.

"Quando é quem está a sair quem escolhe quem vai [a seguir], por muita qualidade que possam ter os nomes, instaura-se mais uma vez a dúvida", salientou, acrescentando: "quem ganhar as eleições na associação mutualista acaba por ser o dono, entre aspas, ou pelo menos condicionar a própria gestão da caixa económica e essa questão não ficou resolvida".

O autor de "Renovar o Montepio" reclama "um processo mais democrático", na escolha dos órgãos sociais da associação, lamentando que a discussão não seja aberta aos 650 mil associados do Montepio.

"Discutem-se os nomes, mas não há listas, há uma lista única. É como uma democracia onde há um partido único, desconfia-se sempre", destacou António Godinho, defendendo que os problemas criados em torno do Montepio advêm, sobretudo, da falta de confiança.

Para António Godinho, as notícias que têm surgido em torno do Montepio resultam mais da falta de confiança de um conjunto de entidades, nomeadamente os reguladores, do que de problemas graves ou irregularidade.

"Se não existissem um conjunto de dúvidas sobre a forma como se governa a associação mutualista pelo mesmo presidente da caixa económica não se colocariam estas questões", garante.

"Se tudo fosse claro, se tudo fosse aberto, sem opacidade, tudo estaria visível. Como não está visível, criam-se dúvidas", reforçou o empresário, acrescentando que "o Montepio não sobreviverá se não conseguir resolver os seus problemas".

A CEMG vai votar, em Assembleia Geral Extraordinária convocada para 5 de agosto, os nomes dos novos órgãos sociais resultantes do novo modelo de governação que reforça a independência da gestão do banco face à associação mutualista que é também o seu único accionista.

Os nomes propostos são José Manuel Félix Morgado para a presidência do Conselho de Administração Executivo, António Tomás Correia (que deixou de presidir aos Conselhos de Administração de ambas as entidades e passa a ficar exclusivamente na liderança da mutualista) para a presidência do Comité de Avaliações, Vítor Melícias Lopes para a presidência da Mesa da Assembleia Geral e Álvaro João Duarte Pinto Correia para a presidência do Conselho Geral e de Supervisão.

António Tomás Correia, que termina as suas funções no final do ano, anunciou em Maio que pretende avançar para um novo mandato, ainda que passe a ser líder apenas da associação mutualista, deixando a caixa económica.

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