Aumento do consumo potencia maior criação de emprego desde 2001

Taxa de desemprego recua para 13,1%, o nível mais baixo dos últimos três anos. Troika avisa que crescimento do emprego pode não ser sustentável.

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Desemprego está agora com a taxa mais baixa dos últimos três anos.

Depois de um longo período de destruição contínua de emprego e de subidas recorde da taxa de desemprego, o inquérito do INE dá conta da criação de 50,5 mil postos de trabalho em relação ao trimestre anterior e de quase 96 mil entre Setembro de 2013 e Setembro de 2014.  É preciso recuar até 2001 para encontrar aumentos homólogos do emprego desta dimensão. No entanto, o total da população empregada continua longe dos níveis desse ano (quando ultrapassava os cinco milhões de activos) e o emprego criado ainda não é suficiente para absorver as 131 mil pessoas que deixaram de figurar nas estatísticas como desempregadas.

Olhando para o que aconteceu nos principais sectores de actividade ao longo do último ano, pode concluir-se que a recuperação do mercado de trabalho parece estar ancorada no aumento do consumo. Os serviços foram responsáveis pela criação de 110 mil postos de trabalho e, dentro deste sector, o principal contributo veio do comércio (com mais 27,6 mil postos de trabalho) e da Administração Pública (mais 25,6 mil), enquanto a indústria teve um crescimento mais tímido, de 46,1 empregos, e na agricultura destruíram-se 60 mil.

“O emprego nos serviços cresceu 110 mil em termos homólogos, o que indicia um crescimento pela procura interna”, destaca ao PÚBLICO o economista João Cerejeira. O professor da Universidade do Minho lembra que o desemprego tem vindo a reagir mais depressa do que o esperado, contrariando o que aconteceu em crises anteriores, quando eram precisos crescimentos económicos superiores a 2% para que o mercado de trabalho voltasse a terreno positivo. “O emprego tem sido mais sensível às oscilações da procura interna, enquanto o aumento das exportações não tem um reflexo tão grande no emprego”, nota, lembrando que no futuro essa relação pode ser um risco.

Francisco Madelino, ex-presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional,  acrescenta outras explicações para o comportamento do mercado de trabalho: “uma boa Primavera-Verão, que, em termos turísticos, aumentou o emprego nos serviços” e o facto de ter aumentado o número de desempregados ocupados em políticas activas de emprego.

Tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) como a Comissão Europeia (CE) não têm dúvidas de que a retoma da economia baseada no consumo é um risco também para o emprego e receiam que as políticas activas de emprego estejam a dar uma ideia errada da dinâmica do mercado laboral em Portugal.

No documento que resume os resultados da visita que a troika fez a Portugal para avaliar a situação do país no pós-programa, ontem divulgado, o fundo alerta que o ritmo de criação de emprego que se tem verificado nos últimos trimestres poderá abrandar.

O problema, diz o FMI é que o aumento do emprego reflecte, em parte, um crescimento da economia assente no consumo privado, e os efeitos das políticas de activação de desempregados e das políticas de contratação das empresas que, durante a recessão, reduziram excessivamente a sua força de trabalho. Bruxelas já tinha deixado alertas semelhantes nas previsões de Outono, divulgadas na terça-feira, dizendo que esses factores podem estar a inflacionar a dinâmica do mercado de trabalho.

O Governo considera a redução do desemprego “uma boa notícia” e está convencido de que a tendência vai manter-se no médio prazo. O ministro do Emprego, Pedro Mota Soares, destacou a recuperação económica do país “capaz de gerar empregos” e  destacou que os empregos criados têm “mais qualidade e mais qualificação”. Sobre o facto de ser o consumo interno e não a procura externa (com  aquisição de bens produzidos em Portugal) a dinamizar os postos de trabalho, o ministro nada disse.

Emprego mais qualificado e menos precário
Os dados trimestrais do INE revelam ainda que a recuperação do mercado de trabalho beneficia os trabalhadores mais qualificados e que as empresas têm investido em vínculos mais permanentes

O aumento mais expressivo da população empregada, em termos homólogos, ocorreu nos trabalhadores com o ensino superior (144,6 mil pessoas) e entre os que têm o ensino secundário (66,8 mil pessoas), enquanto o emprego para os trabalhadores com o ensino básico recuou 115,7 mil. Este padrão mantém-se, embora com valores diferentes, quando se faz a comparação com o trimestre anterior. Mas ao contrário do que se poderia esperar, não é entre os jovens que o emprego mais cresce. Face ao ano passado, o aumento mais notório ocorre nas faixas entre os 35 e os 64 anos. Na comparação trimestral são os jovens entre os 15 e os 24 anos que mais beneficiam com o aumento do emprego, o que poderá estar relacionado com os efeitos da sazonalidade que atravessam os meses de Junho, Julho e Setembro.

É também esse efeito que pode explicar o aumento trimestral mais acentuado dos trabalhadores por conta de outrém com contratos a termo, em comparação com o aumento mais tímido dos contratos definitivos. Mas na comparação anual o crescimento mais expressivo ocorre nos vínculos sem termo (147 mil pessoas).

Desemprego em mínimo de três anos
A retoma do emprego poderá ajudar a explicar a queda da taxa de desemprego para 13,1% no terceiro trimestre de 2014, a percentagem mais baixa dos últimos três anos e um recuo significativo face aos 15,5% registados no ano passado.

Nos últimos 12 meses, 131 mil desempregados deixaram de constar nas estatísticas do INE. Em comparação com o segundo trimestre do ano eram menos 40 mil. Na prática, são 688,9 mil as pessoas que declaram estar a procurar activamente um trabalho. Parte da redução do desemprego fica a dever-se ao aumento do emprego. Porém, os cerca de 96 mil novos empregos são insuficientes para absorver as 131 mil pessoas que saíram do desemprego. A passagem à inactividade e redução da população total, em parte devido à emigração, são outros destinos potenciais dos desempregados que não conseguiram voltar ao mercado.

Mas há quem se arrisque a permanecer nas malhas do desemprego por longos anos. Apesar das melhorias e embora o INE dê conta de uma redução do número de pessoas que diz estar sem trabalho há mais de um ano, o peso dos desempregados de longa duração no total continua a ser preocupante e é o segundo maior desde que há registos. No final do terceiro trimestre, 460,9 mil desempregados procuravam trabalho há mais de um ano, o que corresponde a 66,9% do total.

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