As promessas que vão ficando pelo caminho

Já são visíveis os sinais de incómodo dentro da coligação de esquerda na Grécia.

O Syriza é um partido recente que resultou de uma aliança eleitoral de 13 partidos e correntes de esquerda, desde maoístas, trotskistas, comunistas, verdes, entre outros. Quando o novo Governo apresentou o seu programa de reformas para conseguir mais tempo e dinheiro da troika, Yanis Varoufakis e Alexis Tsipras tentaram apresentar o acordo como uma vitória para os gregos. Mas à medida que a ala mais à esquerda do Syriza foi fazendo o deve e o haver do acordo, e as comparações com o memorando anterior assinado por Antonis Samaras, alguns começam a ficar desiludidos com Tsipras.

Não é por acaso que após o acordo firmado no início desta semana, o ministro das Finanças alemão tenha dito que “os gregos certamente terão um período difícil para explicar o acordo aos seus eleitores”. E assim está a ser. Primeiro foi o veterano Manolis Glezos que veio mostrar-se desiludido com as condições da extensão do regaste: “A mudança do nome da 'troika' para 'instituições', do 'memorando' por 'acordo' e dos 'credores' por 'parceiros' não altera nada a realidade anterior”, sentenciou Glezos.

Depois foi a vez de Mikis Theodorakis, outra celebridade grega, torcer o nariz ao acordo com os alemães, e esta quarta-feira foi o ministro da Energia, um dos representantes da ala mais à esquerda do Syriza, dizer que afinal as empresas de energia não iriam ser privatizadas, contrariando assim a carta que Alexis Tsipras enviou aos parceiros europeus onde garantia que as vendas em curso não iriam ser canceladas. E no meio destas dissonâncias internas, o Partido Comunista já veio marcar uma manifestação de protesto contra o novo Governo. A primeira. O Syriza sabe que o estado de graça na política é algo efémero. E se calhar mais complicado do que negociar com o Eurogrupo será explicar ao eleitorado as promessas que vão ficando pelo caminho.

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