Ministro da Energia grego insiste que não vai haver privatizações no sector

Panagiotis Lafazanis representa a ala esquerda do Syriza e pode abrir confronto com o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, e o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis.

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Varoufakis e Tsipras começam a encontrar resistências na ala radical do Syriza LOUISA GOULIAMAKI/AFP

O ministro da Energia da Grécia, Panagiotis Lafazanis, garantiu, em declarações ao jornal Ta Nea, que não vai haver privatizações no sector da energia – electricidade, gás, refinarias. Enquanto se adivinham dificuldades para o executivo grego, na Alemanha surgem sinais de descontentamento de alguns deputados do partido de Angela Merkel com a aprovação do acordo com a Grécia no Parlamento.

A declaração de Lafazanis contradiz o que foi prometido pelo Governo de Atenas numa carta com indicações de reformas – que as privatizações em que o processo já tivesse sido iniciado não seriam canceladas.

Lafazanis disse que vendas em curso não seriam interrompidas, mas garantiu que a principal empresa de energia eléctrica grega, a PPC, e a operadora da rede ADMIE não seriam vendidas.

Na carta ao chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, prometeu que as privatizações em que já tivessem sido lançadas ofertas ou concursos não seriam interrompidas. É o caso de parte (66%) da ADMIE. Lafazanis disse que estas não iriam em frente. “O concurso para a ADMIE não seguirá em frente”, disse Lafazanis. “As empresas não submeteram ofertas vinculativas por isso não serão completadas. Passa-se o mesmo com a PPC.”

O ministro das Finanças veio esclarecer entretanto que, embora as privatizações não possam ser canceladas, as condições podem ser reavaliadas e alteradas – e a sua legalidade também pode ser examinada. 

Lafazanis – o ministro que representa a ala de esquerda radical do Syriza, que terá cerca de um quinto dos deputados do Partido no Parlamento – já tinha sido a voz de uma posição intransigente em relação às privatizações no fim-de-semana. “São uma linha vermelha”, garantia.

Duas celebridades do Syriza – Manolis Glezos, que tirou a bandeira dos ocupantes nazis da Acrópole em 1941, e Mikis Theodorakis, o compositor de Zorba – foram das faces mais visíveis de oposição, manifestando apoio a uma posição mais dura do Governo nas negociações. Glezos foi mais duro, acusando o Governo de apenas mudar as coisas de nome, e Theodorakis pediu que os gregos dissessem “não” ao “nein” do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble. Para tentar acalmar a oposição, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, visitou Theodorakis e, ainda que não tivessem sido feitas declarações, as imagens divulgadas do encontro mostravam Tsipras a apertar a mão a um sorridente Theodorakis.

Enquanto isso, e depois de várias manifestações pró-Governo em Atenas e noutras cidades gregas, foi marcada a primeira manifestação contra o executivo pelo Partido Comunista. A rivalidade entre os comunistas e o Syriza é grande: exemplo disso foi que, após as eleições de Janeiro, o líder do Partido Comunista recusou reunir-se com Tsipras, que como candidato com mais votos se encontrou com vários líderes dos outros partidos para conversações de governo.

Dissidências na Alemanha
Na Alemanha, cujo Parlamento tem também de aprovar o acordo numa votação marcada para sexta-feira, espera-se uma aprovação certa, mas não sem discussão. Dentro da União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler, Angela Merkel, já há dissidências anunciadas. O deputado Wolfgang Bosbach, crítico de acordos anteriores e que já defendeu antes que a Grécia deveria deixar o euro, disse que iria votar contra a extensão de quatro meses do empréstimo à Grécia, classificando a lista de reformas prometidas pelo novo Governo como “vaga” e sem uma “solução permanente para os problemas económicos do país”.

Da Baviera, o conservador David Bendels apelou à rejeição do acordo. “Qualquer outra posição será uma negligência e uma traição ao contribuinte alemão”, defendeu num artigo publicado no diário Handelsblatt.

E dois responsáveis do conselho económico da CDU, Kurt Lauk e Wolfgang Steiger, manifestaram-se contra o que disseram ser “atirar dinheiro” para a Grécia, segundo o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.

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