Alemanha com défice zero em 2014

Crescimento das receitas fiscais acima do previsto e menos despesa apontam para equilíbrio nas finanças públicas.

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Angela Merkel Thomas Peter/Reuters

A Alemanha terminou 2014 com um défice próximo do zero, algo que já não acontecia desde 1969. Um nível recorde de receitas fiscais e custos do serviço da dívida abaixo do previsto contribuíram para este equilíbrio das contas públicas que o próprio governo liderado por Angela Merkel só esperava para 2015.

Ao conseguir um “orçamento zero”, a Alemanha reforça através do seu próprio exemplo as exigências de a redução do défice deve ser uma prioridade para os países da zona euro e por isso não será de esperar que a folga entretanto conseguida possa ser utilizada para pôr em prática de aumento dos gastos públicos que aumentasse a procura interna e as compras ao estrangeiro.

Esta tem sido uma posição defendida por muitos dos parceiros da Alemanha no clube do euro, numa fase em que o espaço da moeda única vive sob a ameaça de deflação e a economia dá sinais de alguma estagnação. Espera-se, aliás, que, na próxima semana, na primeira reunião de política monetária do ano, o conselho de governadores do Banco Central Europeu possa sinalizar o avanço de novas medidas de estímulo que poderão passar pela impressão de dinheiro fresco para comprar títulos de dívida pública.

Apesar de ainda não haver números definitivos, dados fornecidos pelo ministério da Economia alemão apontam para um nível de receitas fiscais, em 2014, de 271 mil milhões de euros, cerca de 2500 milhões de euros acima do que estava previsto. Ao mesmo tempo, o nível de despesa pública ficou nos 295 mil milhões de euros, cerca de 1000 milhões de euros abaixo do que constava do orçamento para o ano passado.

O aumento das receitas fiscais tem, essencialmente, a ver com a forte dinâmica do mercado de trabalho, que gerou um número significativo de postos de trabalho. A agência Reuters lembrava esta terça-feira que o número de pessoas com emprego subiu para 43,1 milhões em Novembro, um registo recorde, e a taxa de desemprego caiu para 6,5%.

A Alemanha beneficiou, por outro lado, de condições sem precedentes no mercado de dívida, ao garantir várias emissões em que a taxa de juro apurada foi negativa, com os investidores a pagarem para colocar o seu dinheiro num emitente seguro. Isto fez com que o país, em vez de aumentar o seu nível de dívida, como chegou a estar previsto, tivesse reembolsado  cerca de 2500 mil milhões de euros em empréstimos antigos.

O partido a que pertence a chanceler Merkel não tardou a reagir aos resultados alcançados, que salienta constituírem “um sucesso histórico”. Peter Tauber, secretário geral da CDU alemã, afirmou que o défice zero representa “um ponto de viragem na política financeira. Colocamos um ponto final naquilo que era viver acima das nossas possibilidades, ficando a depender do crédito”.

As declarações de Tauber parecem indicar que mesmo com as finanças públicas equilibradas, a Alemanha não irá mudar as agulhas. Os analistas lembram que mesmo que o país decidisse utilizar este registo para potenciar o consumo os efeitos a nível da zona euro, como um todo, seriam muito marginais.
 

   





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