A Grécia mudou o jogo e a Europa já mexeu o primeiro peão

Ainda os votos estavam frescos após saírem das urnas e já altos responsáveis políticos admitiam uma nova reestruturação da dívida grega, i.e., facilitar o pagamento dos empréstimos concedidos. Ao ver as mudanças de jogo, a Europa já começou a mexer as suas peças do xadrez.

Explicação? Provavelmente, o receio de como se iam portar os mercados perante a confirmação da eleição de um partido que diz ser impossível pagar a dívida tal como ela está. Embora a Alemanha, e outros, defendam que hoje há menos riscos de uma eventual saída do euro por parte da Grécia, certo é que não deixa de ser uma caixa de Pandora, com uma dimensão aparentemente menor.  

Ao mesmo tempo, os líderes europeus dão também sinais claros de qual será a sua táctica: mostrar cedências, mas só até um certo ponto. E, afinal, o que quer o novo chefe do Governo, Alexis Tsipras? Acabar com a austeridade e um corte no stock de dívida. As duas coisas parecem, para já, ser incompatíveis.

A Europa só aceitará alterar as condições de pagamento se as reformas (ou seja, cortes na despesas, privatizações, alterações legislativas em áreas como o trabalho, etc.) forem aplicadas. Já Alexis Tsipras tem planos para, por exemplo, voltar a colocar o salário mínimo nos 751 euros (contra os 580 actuais). Ao todo, o seu pacote anti-austeridade está avaliado em cerca de 12.000 milhões de euros. Parte do dinheiro, diz o novo primeiro-ministro, deverá vir da Europa. Outra, defende, virá do combate à evasão fiscal. Mas desenhar programas políticos é fácil. Difícil é convencer países como a Alemanha a mudar de mentalidade e, ao nível interno, mudar a máquina administrativa e décadas de incúria.

Depois, uma coisa é facilitar o pagamento, outra é avançar com um novo corte na dívida (o primeiro, recorde-se, abrangeu apenas os privados). A esmagadora maioria do dinheiro que a Grécia deve (à semelhança de Portugal) está nas mãos da troika de credores: Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. E nem o FMI nem o BCE aceitam qualquer manobra nesse sentido.

No jogo ficaria apenas o dinheiro emprestado pelos Estados-membros, e mesmo esses parecem pouco ou nada dispostos a pensar em tal cenário. Assim é fácil perceber que as negociações começam desde já atadas com um nó górdio.

Quando se tem um inimigo em comum, é mais fácil juntar forças e votos. E foi isso que fez o Syriza. Agora, terá de lidar com a realidade, e cada passo dado poderá afastá-lo da Europa (em direcção à Rússia ou à China), ou do seu eleitorado (se não corresponder às expectativas criadas e apresentar pequenos acertos de pormenor como grandes vitórias).

O jogo que se iniciou esta segunda-feira entre a Grécia e a Europa é um jogo político a dinheiro, onde as paradas estão altas, e às quais Portugal tem de estar especialmente atento. As peças vão ser movimentadas até Julho/Agosto, data em que Atenas terá responder por obrigações financeiras no valor de 6600 milhões. Nessa altura, espera-se que não haja um vencido de cada lado.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários