O novo Guggenheim vai ser assim, se Helsínquia deixar

Ter um Museu Guggenheim pode ser uma ambição de muitas cidades seduzidas pelo “efeito Bilbau”, mas a capital da Finlândia tem-se mostrado difícil.

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O projecto é da autoria da dupla franco-japonesa Nicolas Moreau e Hiroko Kusunoki dr
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O projecto é da autoria da dupla franco-japonesa Nicolas Moreau e Hiroko Kusunoki dr

Não é certo que os habitantes de Helsínquia estejam dispostos a aceitar o minimalismo e a cor sombria numa zona histórica, mas pelo menos já podem visualizar o que até agora era apenas uma abstracção. Na terça-feira soube-se como vai ser o futuro Museu Guggenheim projectado para a frente portuária daquela cidade báltica: um conjunto de módulos rectangulares e uma torre-farol em madeira carbonizada e vidro, da autoria da dupla franco-japonesa Nicolas Moreau e Hiroko Kusunoki, um casal que abriu o seu próprio atelier em Paris em 2011.

O projecto da Moreau Kusunoki Architectes venceu o concurso internacional lançado há um ano pela Fundação Solomon R. Guggenheim para escolher o design do seu novo museu europeu, o terceiro depois de Veneza e Bilbau. O concurso recebeu 1715 propostas de arquitectos e ateliers de 77 países, incluindo Portugal (Nuno Brandão Costa, arquitecto do Porto, teve uma menção honrosa). O processo de selecção foi anónimo: os 11 jurados só ficaram a saber o nome dos arquitectos vencedores depois de terem escolhido o projecto.

A data de inauguração ainda não está definida nem a construção deste museu de arte contemporânea assegurada. Ter um Guggenheim pode ser uma ambição de muitas cidades seduzidas pelo “efeito Bilbau”, mas a capital da Finlândia tem-se mostrado difícil. A oposição local ao projecto, anunciado há quatro anos, apanhou os directores da fundação americana de surpresa. As sondagens, logo em 2011, mostraram que a maioria da população de Helsínquia era contra o projecto. As críticas tinham a ver sobretudo com o contrato de construção do novo museu, segundo o qual a Fundação Guggenheim tomaria a maior parte das decisões, enquanto Helsínquia pagaria os custos.

Em 2012, o projecto foi chumbado numa votação da assembleia municipal por motivos financeiros, em particular os 27 milhões de euros que a cidade teria de pagar para utilizar a marca e o nome Guggenheim. A fundação americana aceitou dispensar a cidade do pagamento desse licenciamento e propôs a criação de uma fundação para angariar financiamento privado. Até ao momento, a fundação conseguiu juntar cerca de um terço da meta financeira. Caberá à autarquia local decidir se avança com o museu, que deverá custar 130 milhões de euros, depois de rever o projecto vencedor. Um novo estudo orçamental foi encomendado.

Os finlandeses estão particularmente sensíveis à economia, devido às medidas de austeridade levadas a cabo pelo Governo, que motivaram protestos este mês. Em Abril, a Finlândia elegeu um novo Governo de direita que prometeu reduzir substancialmente o défice público.

Mas é sobretudo na esquerda que estão os cépticos do Guggenheim de Helsínquia. Os seus defensores, que incluem o presidente da autarquia local, de um partido de centro-direita, vêem no museu um motor do desenvolvimento económico, à semelhança do que aconteceu com Bilbau. O edifício icónico e assimétrico de Frank Gehry, financiado pelo Governo regional basco e inaugurado em 1997, atrai cerca de um milhão de visitantes por ano. “Não estamos a dizer que o efeito Bilbau será inteiramente replicado; estamos a dizer que esse é o nosso historial – a recompensa é muito rápida”, disse o director da Fundação Guggenheim, Richard Armstrong, ao New York Times. Jussi Pajunen, o presidente da Câmara de Helsínquia, diz que o que ouviu da experiência de Bilbau é “muito entusiasmante”. Há estudos que mostram que nos seus primeiros cinco anos, o Guggenheim de Bilbau gerou uma compensação económica para a região basca dez vezes superior ao preço da sua construção.

Cidades como o Rio de Janeiro, Guadalajara (México) e Taichung (Taiwan), entre outras, chegaram a considerar fazer parte da galáxia mundial de Guggenheims, mas os projectos nunca se materializaram. Um novo Guggenheim, assinado por Frank Gehry, está previsto para 2017, em Abu Dhabi, depois de ter encontrado as suas próprias dificuldades de concretização, incluindo um escândalo sobre a exploração abusiva de trabalhadores da construção locais.

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