O museu imaginário de Patrice Chéreau no Festival de Avignon

Exposição será a primeira grande homenagem ao encenador, realizador, actor e produtor francês desde a sua morte.

Fotogaleria
A primeira grande homenagem ao artista total Patrice Chéreau vai de Hopper a Mapplethorpe, de Renoir a Bob Wilson DR
Fotogaleria
Der Ring des Nibelungen (de Richard Wagner) no Festival de Bayreuth, Alemanha. Pierre Boulez e Patrice Chéreau, 1976 DR
Fotogaleria
A Rainha Margot, realização de Patrice Chéreau, 1994 DR
Fotogaleria
Patrice Chéreau no filme Le Temps retrouvé de Raoul Ruiz, 1999 DR

A Colecção Lambert inaugura no dia 3 de Julho, no renovado palacete Caumont, em Avignon, a exposição Patrice Chéreau: Un Musée Imaginaire, integrada na programação do Festival de Avignon, cuja 69.ª edição abre no dia seguinte. É a primeira grande homenagem a este encenador, realizador, actor e produtor francês desde a sua morte, em Outubro passado.

Comissariada pelo director da Colecção Lambert, Eric Mézil, a exposição abarca os vários campos de acção de Chéreau, o teatro, o cinema e a ópera, mas também as suas fontes de inspiração. “Nada o deixava indiferente, nem os poetas do seu tempo e os de sempre, nem os pintores clássicos, nem os arquitectos do inesperado, nem os cineastas pioneiros, nem esses que inventaram com ele uma nova relação com o mundo”, escreve o director do Festival de Avignon, Olivier Py, no catálogo da exposição, a lançar já no dia 1 de Julho. Era nessa “profusão”, escreve ainda Py, que Patrice Chéreau encontrava o seu “canto singular”, produzindo “uma obra sem equivalente” que se “inspirava em tudo”.

Foto
Intimidade, de Patrice Chéreau, 2001 DR

Numa parceria com o Institut Mémoires de L’Édition Contemporaine, onde Chéreau depositou os seus arquivos pessoais, a exposição da Colecção Lambert propõe um trajecto que associa notas, esboços, entrevistas, fotografias de palco, cartazes e outros materiais do espólio do encenador com obras de arte de diferentes períodos, dos grandes pintores do romantismo francês, como ele apaixonados pela História – Delacroix, Géricault ou Ingres, entre outros –, aos mestres do século XX, como Giacometti, Francis Bacon, Anselm Kiefer ou Cy Twombly. Cruzando todos estes materiais, Eric Mézil optou organizar os sucessivos núcleos da exposição em torno de constantes temáticas da obra de Chéreau e das suas grandes paixões e obsessões: o comprometimento político, os anos da sida, a relação com o corpo, a paixão pela História...

No total, este museu imaginário de Chéreau inclui 246 obras de 94 artistas, um conjunto altamente ecléctico, no qual coabitam criadores como William Blake ou Edward Hopper, Renoir ou Nan Goldin, o fotógrafo Robert Mapplethorpe ou o encenador Bob Wilson.

Realizador de filmes como A Rainha Margot (1994) ou Intimidade (2001), actor de Wajda, Chahine, Raoul Ruiz ou Haneke, responsável pela direcção de vários teatros em França e no estrangeiro, encenador de óperas de Mozart, Wagner, Richard Strauss ou Alban Berg, Chéreau deixa ainda, em quase meio século de carreira como encenador de teatro, uma obra impressionante, que abarca o grande reportório dramatúrgico, de Shakespeare, Molière, Marivaux ou Tchékhov, a autores contemporâneos, como Bernard-Marie Koltès ou Jon Fosse.

No texto que escreveu para esta exposição, Olivier Py descreve-o como alguém que “amava as coisas ardentes até aos limites do suportável, e no entanto sabia meditar à sombra de uma árvore melancólica, permitindo que o combate interior da criação desse lugar a uma espécie de beatitude, de tristeza do trabalho cumprido”. 

Sugerir correcção
Comentar