Turquia retira censura a obras de Marx e Lenine

A destituição da "lista negra" incluía obras consideradas "subversivas"

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O Estado e a Revolução de Vladimir Lenine era uma das obras censuradas Rui Gaudêncio/Público

Vigora há 63 anos, mas as autoridades turcas decidiram agora suspendê-lo. O veto que proibiu 453 livros e 645 jornais em 1949 foi quebrado mediante um novo pacote de reforma judicial.

O Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels, um dos textos políticos mais influentes do mundo, constava na lista dos livros considerados “subversivos” e “antipatrióticos” para a Turquia.

“Retirar a proibição é passar uma borracha e virar uma página para uma nova sociedade. Se não podemos explicar a qualquer um que a liberdade é um pacote completo de muitas liberdades diferentes, não importa sabermos que o rei vai nu”, disse o chefe do Gabinete do procurador-geral de Ancara, Kürsat Kayral, citado pelo jornal espanhol ABC.

A decisão está integrada no 3.º pacote de reforma judicial da Turquia e visa, segundo Kayral, ajustar-se aos padrões de liberdade de expressão e de pensamento.

O levantamento do veto estendeu-se também a autores turcos. Nazim Hikmet, poeta contemporâneo de ideologia comunista, viu a sua bibliografia reposta, juntamente com Collected Articles de Mahir Cayan, líder, nos anos 70, da Frente de Libertação dos Povos da Turquia (THKP-C).

Apesar da proibição instaurada, não se pode dizer que Marx ou Lenine (com O Estado e a Revolução) só agora voltam às estantes. Segundo o jornal diário turco Hürriyetjá, sempre foi possível encontrar as obras da "lista negra” nas livrarias.

A extinção do veto poderá, no entanto, levar tais livros a mais bibliotecas públicas, facilitar o processo de impressão e circulação pelas editoras e, até, eliminar um certo pudor do leitor em lê-las. Na lista de “livros banidos” estava ainda a banda desenhada Tommiks, um western dos anos 50 de origem italiana.

A liberdade de comunicação e de imprensa é, entre muitos outros temas, um dos assuntos que têm consolidado a reserva da Comissão Europeia em acolher a Turquia na União Europeia, que requereu oficialmente o pedido de integração em 2005.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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