Morreu o filósofo e professor José Enes

Aquele que foi o primeiro reitor da Universidade dos Açores faleceu em Lisboa na quinta-feira, aos 89 anos. Era visto como um dos mais importantes filósofos do século XX português.

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José Enes Pereira Cardoso (1924-2013) notabilizou-se principalmente na área da filosofia e do ensino, tendo publicado em meio século de vida literária sete títulos. Mas o mais importante deles, na opinião do escritor Miguel Real – autor da biografia de José Enes inserta do site da Direcção Regional de Cultura do Governo dos Açores –, é À Porta do Ser, publicado em 1969.

Trata-se de “um livro que revolucionou radicalmente o pensamento filosófico religioso institucional português, fortemente centrado, até à década de 60, ora num tomismo puro e duro, ora num tomismo beijado pela fenomenologia, ora num tacteamento teórico de procura de novos horizontes sem assumpção de teoria substituta”, escreve este ensaísta e também professor de filosofia.

Em declaração ao PÚBLICO, Miguel Real reafirma a ideia de que José Enes foi “o mais importante pensador açoriano posterior a Antero de Quental e Teófilo Braga”, e “o filósofo tomista mais importante do século XX português, tendo cruzado e unido as categorias da filosofia de S. Tomás de Aquino com a análise heideggeriana do ser”.

Nascido nas Lages do Pico, em 1924, José Enes teve uma formação escolástica na Universidade Gregoriana de Roma, que frequentou em dois períodos (1945-50 e 1964-66). Iniciou a actividade docente, ainda nos anos 1950, no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo, mas na década seguinte decide trocar os Açores por Lisboa.

Após os anos dedicados ao doutoramento, entre Roma, o Canadá e os Estados Unidos, que resultariam na publicação do já referido À Porta do Ser, José Enes regressa ao ensino na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa (1968-73). Dois anos após o 25 de Abril de 1974, volta à sua terra natal para ser um dos fundadores e o primeiro reitor da Universidade dos Açores.

Em declaração ao jornal Açoriano Oriental, o antigo reitor da Universidade, Vasco Garcia, que esteve igualmente ligado à sua fundação, considerou José Enes “o homem certo no lugar certo e na hora certa” para a criação da Universidade açoriana. E acrescenta que se tratava de “um homem sábio, um hábil negociador e um diplomata com uma persistência notável”.

Ainda seguindo a biografia estabelecida por Miguel Real (autor do livro José Enes, Poesia, Açores e Filosofia, editado em 2009), o professor e filósofo ensinou também na Universidade Aberta em Lisboa, onde se jubilou em 1994.

Para além da actividade docente, a obra de José Enes estendeu-se ainda à poesia (Água do Céu e do Mar, 1960) e ao ensaio e crítica literária (A Autonomia da Arte, 1965). Mas os títulos mais relevantes da sua produção versaram o universo da filosofia, entre os quais se contam Linguagem e Ser (1983) e Noeticidade e Ontologia (1999).

O velório do corpo de José Enes realiza-se segunda-feira a partir do final da tarde, na Igreja de Massamá, em Lisboa; o funeral tem lugar na terça, depois de uma missa de corpo presente, às 15h30, para o cemitério do Alto de S. João.

 

Notícia actualizada às 16h16 de 5 de Agosto, com nova informação sobre o funeral.
 
 
 
 
 

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