Herdeiros de Peggy Guggenheim querem ver revogada a doação da sua colecção em Veneza

O bisneto da coleccionadora norte-americana iniciou um processo judicial em Paris, acusando a Fundação Solomon R. Guggenheim de "falhar no cumprimento das condições" da doação.

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O Museu Peggy Guggenheim está localizado no Palazzo Venier dei Leoni, em Veneza AFP PHOTO/MARCO SABADIN

As acusações são graves. Os herdeiros de Peggy Guggenheim (1898-1979) acusam a Fundação Solomon R. Guggenheim, que gere a colecção doada pela coleccionadora de arte moderna exposta no Palazzo Venier dei Leoni, em Veneza, de “falhar no cumprimento das condições” da doação e de “desrespeitar totalmente” o seu “legado ”, declarou Sindbad Rumney, bisneto de Peggy Guggenheim, à edição online do The Art Newspaper. Os herdeiros, como noticiado a semana passada, iniciaram em Paris um processo judicial que pede a revogação da doação à fundação.

De acordo com os herdeiros, aquando da morte de Peggy Guggenheim, em 1979, a sua colecção de arte abstracta, cubista e surrealista, bem como o palácio que a albergava, foram doados com a condição de que aquela se mantivesse intacta e em exposição, com a recomendação de que obras adquiridas posteriormente ou emprestadas temporariamente fossem exibidas num edifício adjacente, algo que, defendem, não foi seguido pelos responsáveis da fundação criada pelo tio de Peggy Guggenheim, Solomon R. Guggenheim.

Sindbad Rumney dá como exemplo o facto de a Colecção Peggy Guggenheim ter aceitado em 2012 a doação de 83 obras por parte dos coleccionadores Rudolph e Hannelore Schulhof, o que não só levou a que trabalhos da colecção original fossem retiradas para armazém como a que os nomes dos doadores alemães estejam agora imortalizados ao lado do de Peggy Guggenheim nas duas entradas do museu em Veneza.

“Basicamente, o que descobrimos é que, tendo a quantidade certa de dinheiro e uma colecção, pode-se exibi-la no Peggy Guggenheim em Veneza”, afirmou Sindbad Rumney ao The Art Newspaper.

Este é o segundo processo judicial que os herdeiros de Peggy Guggenheim iniciam contra a Fundação Solomon R. Guggenheim. As mesmas acusações, recordava terça-feira o Los Angeles Times, tinham já sido feitas em 1994.

“A Fundação tem orgulho na sua gestão da colecção”, lê-se num comunicado da Fundação Solomon R. Guggenheim, em Nova Iorque. “A Fundação honrou fiel e consistentemente os objectivos da doação de Peggy Guggenheim, que eram expandir e propagar o gosto pela arte moderna que ela amava”.

Sindbad Rumney recordou, por sua vez, que o processo de 1994 terminou com um acordo entre as partes em 1996, segundo o qual os herdeiros passariam a ser consultados em todas as “principais decisões” relativas à colecção, algo que, afirma, nunca aconteceu. O representante dos herdeiros insurge-se ainda contra aquilo que classifica como “profanação” do túmulo de Peggy Guggenheim, cujas cinzas repousam nos jardins do palácio.

Actualmente, acusa Sindbad Rumney, “já não é um jardim para meditação ou um lugar ‘sagrado’ dedicado a Peggy Guggenheim, é um local profano que glorifica coleccionadores”. Isto porque, acrescenta, se encontram actualmente espalhadas pelo jardim obras doadas por Patsy e Raymond Nasher. Além disso, Sindbad Rumney diz que o espaço é alugado para festas privadas e para eventos de angariação de fundos para o museu.

No próximo dia 21 de Maio, as duas partes serão ouvidas num tribunal em Paris.

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