Escritores ingleses indignados com restrições à leitura nas prisões

Salman Rushdie, Ian McEwan, Julian Barnes e vários outros escritores ingleses apelaram ao governo para que reveja os regulamentos que impedem os presos de receber livros de familiares e amigos

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Julian Barnes é um dos escritores que subscreveram a carta aberta Miguel Madeira

 Salman Rushdie, Ian McEwan, Julian Barnes, Irvine Welsh, Nick Hornby, Philip Pullman, Ian Rankin e a poetisa Carol Ann Duffy, que detém desde 2009 o estatuto de “poeta laureado”, atribuído pela rainha, são alguns dos escritores que apelam ao ministro da Justiça, Chris Grayling, para que revogue os recentes regulamentos que impedem os detidos de receber livros que lhes cheguem do exterior da prisão.

“Estamos profundamente preocupados com as novas regras que proíbem a família e os amigos de enviar livros aos presos”, diz a carta. “Percebemos que as prisões devem poder aplicar incentivos para recompensar o bom comportamento dos detidos, mas não acreditamos que a educação e a leitura devam fazer parte dessa política”, acrescentam os escritores. Uma alusão ao sistema introduzido pelo governo no sistema prisional, que pretende estimular a boa conduta dos detidos oferecendo-lhes como prémio o direito a comprar livros de catálogos previamente aprovados.

Mas comprar livros do exterior, ou assinar revistas, é agora proibido, o que indignou muitos escritores ingleses e provocou controvérsia nas redes sociais. Uma petição colocada na Internet a apelar ao executivo conservador liderado por David Cameron para que repense esta política já tinha ontem mais de 15 mil assinaturas. “Os livros representam a possibilidade de uma outra vida atrás das grades, um modo de alimentar a mente e de preencher as muitas horas que os presos passam fechados nas celas”, lembram os signatários desta carta aberta, que consideram que “os livros são ainda mais importantes num ambiente onde é vedado o acesso à Internet”.

Em teoria, um preso que cumpra os regulamentos pode alugar livros na biblioteca da sua prisão e ter na cela, em simultâneo, um máximo de 12 títulos, mas o sistema nem sempre funcionará na prática. Nicholas Jordan, encarcerado na prisão de Oakwood, na região de Straffordshire, viu publicada uma carta em que ironizava com as queixas de presos de outras prisões, que queriam poder ter mais de 12 livros ao mesmo tempo. “Grandes sortudos! Aqui em Oakwood não temos esses luxos: não há nenhum sistema para comprar livros a um fornecedor autorizado, nem podemos recebê-los de fora”. E a biblioteca da prisão, prossegue Jordan, está muito mal catalogada, e pedir um título que não conste do catálogo implica “uma espera de três meses, que geralmente acaba com um bilhete a dizer que a obra está indisponível”.

Um porta-voz de Cameron já fez saber que o primeiro-ministro apoia a política de Chris Grayling, que argumenta com a necessidade de evitar a distribuição de drogas ilícitas e o contrabando nas prisões. Mas há sinais, diz o jornal The Independent, de que o ministro da Justiça “não goze do mesmo apoio no partido”. E o Daily Mail cita um ministro de Cameron, que não identifica, a dizer que “Chris Grayling ganha o prémio para o ministro menos esclarecido deste governo”.

 

 

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