Células STAP: o confronto final

Segundo mais um relatório de inquérito, publicado há dias, estas células nunca existiram.

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Haruko Obokata demitiu-se pouco antes do Natal Kyodo/Reuters

As chamadas células STAP, bem como os embriões de ratinhos e os tumores supostamente derivados dessas células, “tiveram origem em culturas contaminadas com células estaminais embrionárias”, lê-se no mais recente relatório de inquérito do Instituto RIKEN (Japão), citado no site da revista Science. Um facto que, ainda segundo esse documento, “rejeita a totalidade das principais conclusões de dois artigos” publicados em Janeiro de 2014 na revista Nature.

Recorde-se que aqueles artigos anunciavam o desenvolvimento de uma nova técnica que permitia gerar, a partir de células adultas (de ratinho), células muito semelhantes às chamadas células estaminais embrionárias. Ora, a capacidade de gerar células estaminais no laboratório apresenta, para muitos especialistas, o potencial de revolucionar a medicina, uma vez que, em teoria, elas devem permitir gerar, de forma personalizada, todos os tecidos do corpo.

Mais precisamente, a técnica descrita naqueles artigos permitia gerar “células STAP”, sigla em inglês para “aquisição de pluripotência desencadeada por um estímulo”. Basicamente, explicavam Haruko Obokata, do RIKEN, e colegas japoneses e internacionais, bastava submeter células já diferenciadas do sangue de ratinhos a um breve “mergulho” numa solução ligeiramente ácida para as fazer “regressar à infância”, tornando-as pluripotentes. O método seduziu a comunidade científica pela sua simplicidade.

Seguiu-se uma triste saga: a jovem Obokata foi considerada culpada, pelo RIKEN, de má conduta científica por manipulação e falsificação de imagens; os artigos em causa foram retirados da publicação pela Nature; e um dos co-autores, Yoshiki Sasai, suicidou-se.

Por último, a própria Obokata, que declarou ter entretanto tentado – em vão – reproduzir os resultados iniciais das experiências ao longo de vários meses, demitiu-se a 20 de Dezembro.

Mas até aqui, ainda podiam subsistir dúvidas quanto à realidade das células STAP. É a estas réstias de esperança que o último relatório do RIKEN vem agora pôr fim, concluindo que três das supostas linhagens de células STAP eram provavelmente três linhagens de células estaminais embrionárias já existentes, como explica ainda a Science.

“É pouco provável que tenha havido uma contaminação acidental de três linhagens de células estaminais embrionárias diferentes, e suspeita-se que a contaminação tenha acontecido de forma artificial”, conclui o relatório. Porém, não foi possível determinar se ela foi deliberada – nem quem poderá ter sido responsável por ela – o que impediu os inquiridores de declarar que houve efectivamente fraude.

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