Suicidou-se cientista japonês envolvido na polémica das células estaminais

Yoshiki Sasai, de 52 anos, era cientista sénior e um dos autores dos artigos sobre um novo método de fabrico de células estaminais que se revelou uma fraude.

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Yoshiki Sasai em Abril, numa conferência de imprensa Toru Yamanaka/AFP (arquivo)

O cientista japonês Yoshiki Sasai, de 52 anos, foi encontrado enforcado no seu instituto ao início desta terça-feira, na cidade de Kobe, no Japão. O conceituado investigador era um dos autores dos dois artigos publicados na revista Nature em Janeiro sobre uma nova técnica para a produção de células estaminais, que desencadeou uma enorme polémica científica.

“Confirma-se que é um suicídio”, disse um porta-voz da polícia, citado pela agência Reuters. “Foi um enforcamento.” O cientista foi encontrado no Centro RIKEN de Biologia do Desenvolvimento de Kobe por um empregado do instituto. Sasai deixou várias cartas, duas das quais para os responsáveis do seu instituto diz a Reuters, cujo conteúdo é desconhecido.

“O que aconteceu é uma infelicidade”, considerou Yoshihide Suga, o porta-voz do Governo japonês. “O senhor Sasai contribuiu enormemente para o campo da biologia do desenvolvimento e era um cientista de renome internacional.” Também Ryoji Noyori, presidente do RIKEN, citado pela Reuters, declarou “um profundo pesar pela perda de um cientista insubstituível”.

O investigador orientava o trabalho de Haruko Obokata que esteve no centro do furacão desta polémica. A jovem investigadora era a primeira autora dos dois artigos na Nature, já que foi responsável por grande parte do trabalho.

Nos dois documentos, os autores avançavam uma técnica que permitia produzir células estaminais submetendo células adultas a um choque de uma solução ácida. Caso fosse verdade, o método simplificava a produção de células estaminais, que pela sua plasticidade biológica podem dar origem a todos os tecidos, e influenciaria assim a medicina regenerativa.

A técnica, porém, foi sendo descredibilizada quando outros cientistas tentaram reproduzi-la sem sucesso. Começou a falar-se de uma fraude. O próprio instituto fez uma investigação sobre o trabalho científico e descobriu que Obokata plagiou e inventou porções dos artigos. Em Julho, a Nature retirou os artigos de publicação: “Erros múltiplos prejudicam a credibilidade do estudo e somos incapazes de dizer se o fenómeno (..) é, sem dúvida, real.”

Segundo Satoru Kagaya, porta-voz do instituto, Sasai mostrou-se exausto numa conversa telefónica, revelou à Reuters. Em Março foi hospitalizado devido ao stress associado à polémica. Agora, quando foi encontrado, o cientista foi imediatamente levado para o hospital para tentarem reanimá-lo, mas sem sucesso. O hospital confirmou a sua morte duas horas mais tarde, avança a agência AFP.

Haruko Obokata, que já tinha estado hospitalizada devido à polémica, estava “muito chocada” com o sucedido, disse ainda Satoru Kagaya, e estava a ser acompanhada por duas pessoas do instituto.

No seu blogue, Paul Knopfler, investigador em células estaminais da Universidade da Califórnia, EUA, escreveu que Yoshiki Sasai era um académico de topo no campo das células estaminais, com dezenas de artigos de grande impacto publicados: “Isto é uma tragédia e os meus pensamentos vão para a sua família, os seus amigos e os seus colegas de laboratório.”
 

   





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