Armeira de Rust, Hannah Gutierrez-Reed, condenada a 18 meses de prisão

A juíza Mary Marlowe Sommer determinou que a armeira foi a única responsável por “transformar uma arma segura numa arma letal”. O advogado de Gutierrez ainda pediu pena suspensa, mas sem sucesso.

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Hannah Gutierrez-Reed ouve a sentença no Tribunal de Santa Fé no Novo México Luis Sanchez Saturno/Pool via REUTERS
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Hannah Gutierrez-Reed, a principal responsável pelo manuseamento de armas do western Rust, foi condenada a 18 meses de prisão, nesta segunda-feira. Em causa, a morte da directora de fotografia Halyna Hutchins, que foi baleada quando o actor Alec Baldwin manuseava uma arma durante a produção do filme, em 2021.

Em Março, a armeira de 27 anos foi considerada culpada de homicídio involuntário por carregar por engano uma munição real num revólver que Baldwin estava a usar no cenário de rodagem, em Santa Fé, no Novo México. “Só Hannah transformou uma arma segura numa arma letal”, declarou a juíza Mary Marlowe Sommer quando proferiu a sentença.

Em videochamadas e na sala de audiências do tribunal, os amigos de Halyna Hutchins reuniram-se para prestar homenagem à criatividade e bondade da cineasta. Também criticaram as infracções de Gutierrez ao protocolo de segurança das armas de fogo. “Tenho dificuldade em lidar com o facto de isto ser repetidamente chamado de acidente, porque não foi um acidente, foi negligência”, defende Jen White, que também trabalha na indústria cinematográfica.

O tiroteio chocou Hollywood. Terá sido a primeira vez, nos últimos tempos, que um membro da equipa ou do elenco de um filme foi morto por uma bala carregada acidentalmente numa arma. O tiro foi disparado por Alec Baldwin, que tem julgamento marcado para 10 de Julho, depois de um grande júri o ter acusado de homicídio involuntário, em Janeiro.

O advogado de Hannah Gutierrez, Jason Bowles, tinha pedido que lhe fosse concedida liberdade condicional, mas o Ministério Público defendeu a pena de 18 meses por falta de arrependimento. “Peço-vos, por favor, que não me dêem mais tempo”, disse Gutierrez ao tribunal, acrescentando que o seu “coração doía” pela família de Hutchins. “O júri considerou-me culpada por esta tragédia, mas isso não faz de mim um monstro, faz de mim um ser humano.”

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Olga Solovey, mãe de Haylna Hutchins Eddie Moore/Pool via REUTERS

Numa videochamada a partir de Kiev, a mãe da cineasta nascida na Ucrânia lamentou a morte da filha e o facto de o neto, Andros, ter ficado sem mãe. “É a coisa mais difícil perder um filho”, disse Olga Solovey, cujos comentários foram traduzidos para inglês com legendas.

A procuradora Kari Morrissey evocou os telefonemas de Gutierrez a partir da prisão em Santa Fé, nos quais a armeira rotulava os jurados de “idiotas” e acusava a juíza de ter sido “subornada”. A jovem continuava a culpar Baldwin e outros pelo tiroteio.

Julgamento de três semanas

No dia 6 de Março, um júri de Santa Fé demorou menos de duas horas a declarar Hannah Gutierrez culpada. Um jurado lembrou que a armeira não tinha feito o seu trabalho para garantir a segurança das armas no cenário de rodagem.

A morte de Hutchins levou inicialmente as produções cinematográficas e televisivas norte-americanas a deixarem de utilizar armas de fogo verdadeiras com munições vazias. Dois anos e meio depois, muitas estão a utilizá-las novamente devido aos efeitos realistas que produzem, de acordo com os armeiros.

Durante o julgamento de Gutierrez, que durou três semanas, os procuradores acusaram Gutierrez de ter trazido, sem saber, cartuchos de Colt.45 para o cenário do filme de baixo orçamento, algo que é estritamente proibido há quase um século, de acordo com as directrizes de segurança do sindicato de actores, o Screen Actors Guild (SAG).

O advogado Jason Bowles defendeu que Gutierrez era o bode expiatório de uma produção caótica em que não lhe foi dado tempo para verificar as armas. Atribuiu a morte de Hutchins ao uso imprudente de armas de fogo por Baldwin e aos seus esforços para apressar e controlar as filmagens — o actor era também produtor e argumentista do filme.

A advogada Gloria Allred, que representa os pais e a irmã de Hutchins numa acção judicial contra Baldwin, disse que apoiava a acusação criminal. “O Sr. Baldwin fez tudo o que podia para tentar arquivar o processo, mas, nesta altura, parece que o julgamento vai avançar”, disse aos jornalistas no exterior do tribunal.

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Luis Sanchez Saturno/Pool via REUTERS

Baldwin nega ter premido o gatilho e defende que tinha sido instruído para apontar a arma para a câmara. Mas o FBI e um perito independente em armas de fogo concluíram que a arma não dispararia sem o gatilho premido.

Os anteriores tiroteios fatais em estúdio dos actores Brandon Lee, em 1993, durante as filmagens de O Corvo, obra-culto de Alex Proyas; e Jon-Erik Hexum, em 1984, envolveram balas vazias. No primeiro caso, Michael Massee, no papel de Funboy, atingiu Lee, que viria a morrer no hospital. A investigação viria a concluir que se tratou de um acidente, ao perceber que a arma utilizada tinha disparado antes munições verdadeiras. O que aconteceu foi que um cartucho ficou alojado no cano, sendo libertado quando foram disparadas munições secas. Massee não tinha qualquer responsabilidade pelo sucedido, mas o actor, que viria a morrer em 2016, aos 61 anos, nunca conseguiu assistir ao filme. O segundo ocorreu quando o próprio actor encostou o cano à têmpora e disparou a Magnum 44 que usava numa cena da série Cover Up​ e que julgava estar sem munições.

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