Quando a lava entra em contacto com a neve – é o que mostram as fotografias de Marco

O vermelho incandescente da lava e o branco gelado da neve parecem opostos. Ao PÚBLICO, Marco di Marco, fotojornalista da AP News, explica como a junção das duas é possível – e de como a fotografa.

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Di Marco usa drones para filmar a lava e a neve Marco di Marco
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Di Marco usa drones para filmar a lava e a neve Marco di Marco
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Marco di Marco é italiano, tem família em Portugal e vive na Islândia. Nas redes sociais, o fotojornalista da AP News causou indignação e surpresa por partilhar as suas fotografias de vulcões em erupção. Não era um fenómeno qualquer: eram vulcões que "invadiam" a neve – e​ ela não se derretia.

"Esses vídeos não podem ser reais, porque a neve derrete-se em contacto com a lava", é um dos comentários que mais recebe de cada vez que faz uma publicação no Instagram, conta. Mas não é bem assim. Os vídeos que di Marco grava não só são reais, como bastante difíceis de captar. Expliquemos.

Foto
A Islândia é um dos países com mais vulcões do mundo Marco di Marco

Em primeiro lugar, diz o fotógrafo, na maior parte dos dias em que fotografa "não há neve fresca", mas sim gelo, que forma blocos, o que atrasa a sua liquidificação. Mas há também o facto de "a neve ter um coeficiente de transferência de calor que corresponde apenas a 10% do resto da água", conta. Desta forma, o contacto da lava (cuja temperatura pode atingir os 1200 graus Celsius) com o gelo (geralmente a temperaturas negativas) pode levar algum tempo, mas esse tempo não é suficiente para derreter a camada branca com a chegada da lava.

Há ainda outro factor de peso: as erupções vulcânicas islandesas acontecerem em zonas rochosas. "As rochas bloqueiam o calor da lava que se aproxima". O resultado é visível nas imagens de Marco di Marco.

Em algumas, é possível ver algum vapor libertar-se da neve ao chegar a lava. Quando o gelo finalmente tem tempo para se derreter, "sobe na lava". "A lava tem muito gás, então o vapor pode subir facilmente", explica. Esse vapor, que é "muito fino", acaba por "proteger a neve" durante algum tempo, e é graças a ele que não há liquidificação. Depois, "a lava passa por cima, cobre tudo e deixa de existir vapor, já que "a partir de um certo ponto está tão quente que já não pode haver condensação" (passagem do estado gasoso para o líquido).

Profissão: fotografar vulcões

Di Marco começou na Sicília, onde nasceu, e mais tarde estudou Geologia, a fotografar o vulcão Etna, em 2008. É daí que vem a paixão que o fez mudar-se para a Islândia. Em 2012, começou a fotografar vulcões profissionalmente.

Parece uma profissão perigosa, mas não é tanto para quem já tem experiência. Fotografa e filma de diferentes ângulos, desde zonas altas perto do local da erupção até uma distância bastante longínqua, com o uso de drones, quando as próprias "estruturas de segurança [onde grava] estão em perigo".

"Há uma série de limitações, porque os drones não se podem aproximar a partir de um certo ponto", conta. Mas há momentos curiosos: "Quando a lava atravessa uma estrada, por exemplo, o asfalto derrete-se e é libertado um fumo preto", que também mostra nas redes sociais.

A Islândia tem mais de 30 vulcões activos, por se situar num lugar onde as placas tectónicas euro-asiática e norte-americana divergem. Por existir essa separação de placas, o magma acumula-se e infiltra-se nas fissuras, o que origina várias erupções por ano.


Texto editado por Claudia Carvalho Silva

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