Password Web Summit

Será que a password de José Silvano é uma destas? E que tal se o Parlamento organizasse uma oportuna Password Web Summit?

1. Acabou a Web Summit (WS), que assentou arraiais em Lisboa. Fico de pé atrás quando se estimam os seus ganhos directos e se discorre sobre os benefícios mediatos e indirectos. Quanto aos primeiros, há sempre uma boa dose de voluntarismo nos cálculos, às vezes para inglês (ou irlandês) ver. Por exemplo, disse-se que o retorno andaria à volta de 300 milhões de euros. Parece-me um exagero. Terão passado 70.000 pessoas pela WS que, além de ingressos, tiveram sobretudo despesas de hotelaria e restauração. Tendo em conta estes números, chega-se a um consumo por participante de 4285 euros. Valor manifestamente exagerado, a que acresce a circunstância de haver muitos participantes cá residentes. Quanto ao retorno a prazo, gostaria de ver uma análise de monitorização das iniciativas directa ou indirectamente suscitadas pela WS, em especial das tão reclamadas startups, não sabendo quantas up e quantas down.

Longe de mim, não valorizar os aspectos tecnológicos que percorrem os dias da conferência, a troca de experiências, a potenciação de contactos, a aquisição de competências, cuja “contabilidade” não é possível fazer e cujos ganhos intangíveis podem ser assinaláveis. Também não descuro o interesse para a cidade de Lisboa deste encontro planetário.

No meio de tantos palestrantes e opinadores, houve também a inevitável festança política e social. O primeiro-ministro por pouco não acampou no Parque das Nações, enlevado pelo “dono” da WS Paddy Cosgrave, que não se faz rogado perante o poder político que lhe garante um chorudo negócio. Li, neste jornal, que o preço mais baixo quanto a espaços foi o de stands de quatro (!) metros quadrados pela módica quantia de 29 mil euros e que espaços empresariais de maiores dimensões terão atingido os 330 mil euros.

Além de António Costa, foi um corrupio de governantes. E há sempre novos sábios saídos da lâmpada mágica da fina tecnologia de certas (auto-consideradas) elites, que se pavoneiam nos corredores e exalam o seu inglês de perfeição high-tech. Cosgrave, num golpe de asa de marketing, convidou Marine Le Pen – sabe-se lá com que critério tecnológico – e, de seguida, deixou-se pressionar para a desconvidar, numa manobra publicitária de retorno assegurado. Ela que até poderia ter perorado sobre startups políticas, polígrafos e manipulação de redes sociais...

No meio de tantas comunicações, uma houve que alertou para o risco de transformar poderosos meios em formas de poder danosas. Estamos a deixar-nos colonizar pelas empresas de tecnologia, disse o canadiano que denunciou o escândalo do uso abusivo do Facebook pela Cambridge Analytica. Em particular, no que diz respeito às redes sociais e seus derivados, afirmou que inicialmente vistos como “mensageiros divinos, que promoviam a união”, vêm-se transformando em “exploradores que querem acumular recursos”.

Enfim, depois da espuma desaparecida, da poeira assente e do palavreado esquecido, o que fica verdadeira e sustentadamente? Cada qual que responda...

2. Coincidência curiosa foi a de a WS se ter realizado na semana do chamado “caso Silvano” ocorrido na AR. Quem de vós nunca partilhou uma password?, perguntou em tom quase evangélico a deputada Emília Cerqueira depois de ter entrado num computador alheio, afirmando ainda, sem ruborizar, que “a troca de palavras-passe entre os deputados é uma prática comum”. Tudo isto acompanhado do silêncio comprometido dos deputados de todas as bancadas e da inércia da Comissão de Ética da AR.

Veio-me, então, à memoria o que, há tempos, li sobre a violação de códigos de segurança, que tomaram conta da nossa vida, seja para o simples cartão multibanco, para o telemóvel, e-mails ou para toda a parafernália de acessos informáticos.

Criar palavras-chave invulneráveis tornou-se uma dor de cabeça, mas há quem continue a abusar da falta de imaginação ou de uma irreversível preguiça, como se comprova pela lista das piores passwords de 2017, revelada pela SplashData, uma representativa empresa de segurança informática. A lista, elaborada pelo sétimo ano, foi feita com base em cinco milhões de passwords roubadas ou violadas no ano passado na América do Norte e na Europa.

É inacreditável como, nos tempos que correm, haja quem adopte a sequência de números 123456, que continua a ser a mais vulnerável password, logo seguida pela própria palavra password. As sequências de números, aliás, dominam o top-10 das piores senhas: 12345678 é a terceira na lista, 12345 é a quinta, 1234567890 é a sexta! No quarto lugar, surge a habitual sequência de letras do teclado, qwerty, também altamente desaconselhável.

Além das sequências de números, a lista inclui ainda algumas palavras comuns, que obviamente são arriscadíssimas, tais como, em versão inglesa, basebal e football ou ainda iloveyou, welcome, login, computer, etc.

No top-100 há nomes (Robert e Andrea, os primeiros), marcas (Ferrari, à cabeça), alimentos (banana em 61.º), e até há aaaaaa!

Será que a password de José Silvano é uma destas? E que tal se o Parlamento organizasse uma oportuna Password Web Summit?

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