Mota-Engil prestes a vender participação na Indaqua

Alienção da maioria do capital faz parte da estratégia de redução do endividamento do grupo.

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Depois de várias aquisições, Mota-Engil está a reequacionar as áreas de aposta. Dário Cruz

A Mota-Engil deverá concluir brevemente a venda da participação na Indaqua, empresa de captação e distribuição de água para consumo público, onde detém 50,06% do capital. Esta operação insere-se na estratégia de venda de “activos maduros” para reduzir o endividamento do grupo.

“A empresa está a analisar várias propostas de compra, incluindo uma feita por um grupo israelita” confirmou ao PÚBLICO fonte ligada à construtora, admitindo que “a decisão de venda será tomada no curto prazo”.

De acordo com a mesma fonte, a operação insere-se na mesma estratégia que presidiu à recente venda, aos turcos da Yildirim, do negócio da logística e das concessões portuárias (Tertir), por 275 milhões de euros.

O grupo de construção tem ainda em curso a venda da totalidade ou de parte da participação de 60% que detém na Ascendi, uma operação combinada com o Novo Banco, que detém os restantes 40%. Na corrida à empresa, avaliada pelo BPI em mais de 600 milhões de euros, estão vários interessados e a decisão final também deverá ocorrer brevemente, admitiu a mesma fonte.

As acções da Mota-Engil têm sido muito pressionadas em bolsa, perdendo cerca de 35% desde o início do ano. Só esta segunda-feira, o título encerrou a perder um quinto do seu valor, por razões que a administração diz desconhecer. Para a desvalorização da empresa terão contribuído alguns movimentos especulativos, o que levou o regulador do mercado a proibir as vendas a descoberto (short-selling) na sessão desta terça-feira, o que ajudou a que os títulos tenham terminada com um ganho de 3,07%, para 1,21 euros.

A preocupar os investidores parece estar o elevado endividamento do grupo (algo que não é recente), que se situava nos 1600 milhões de euros líquidos segundo os dados consolidados de Setembro de 2015, bem como a exposição a África, numa altura em que a crise do petróleo está a provocar uma travagem no lançamento de novas obras e nos pagamentos.

Em relação ao endividamento, o último comunicado da empresa dá conta de uma “redução assinalável dos níveis consolidados de endividamento” no quarto trimestre do ano.

Ainda em relação à venda da participação na Indaqua, o PÚBLICO sabe que as negociações para a venda da posição de controlo na empresa estão adiantadas e que o grupo israelita que está na corrida, cuja identidade não foi possível apurar, é o que está melhor posicionado para assumir o controlo da empresa.

Os restantes 49,96% da empresa que detém perto de 30 concessões municipais na região Norte são detidos pelos alemães da Talanx, do grupo segurador HDI.

A entrada do accionista alemão foi realizada em 2014, na sequência da venda das participações da SDC (antigo Grupo Soares da Costa) e da Elevo, empresa que adquiriu várias empresas de construção em dificuldades e que integra o universo da Vallis Capital Partners, sociedade gestora de fundos de investimento privados.

A venda da participação conjunta das duas empresas ascendeu a 52 milhões de euros. A actual operação deverá superar este valor, uma vez que tem um prémio de controlo da empresa que, entre outros negócios, detém as concessões de abastecimento de água dos concelhos de Fafe, Santo Tirso, Trofa, Santa Maria da Feira, Matosinhos e Vila do Conde, bem como uma pequena presença em Angola.

A indefinição do modelo de gestão das águas em Portugal e o afastamento, com o Governo socialista, do cenário de privatização deste negócio, e ainda as necessidade de fortes investimentos para fazer crescer a empresa dentro das concessões municipais, terão contribuído para a Mota-Engil colocar a Indaqua na lista dos activos disponíveis para venda.

No grupo Mota-Engil, a Indaqua está integrada na SUMA, que agrega os negócios de ambiente e serviços, e que foi substancialmente reforçada com a compra da EGF, na área da gestão integrada de resíduos sólidos urbanos, por 150 milhões de euros, no âmbito da privatização concretizada no ano passado.

Esta é uma área de aposta do grupo, não só em Portugal mas também nos mercados externos, nomeadamente na América Latina e em Omã. A reversão desta privatização tem sido reclamada pelos partidos de esquerda, mas o actual Governo, ao contrário de outros processos, designadamente o das concessões nos transportes, ainda não deu sinais de que pretende mexer neste dossier.

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