Portugueses travam nos gastos mas continuam a querer experimentar produtos novos

Mais de 30% das vendas da Nestlé são obtidas com inovações ou actualizações. Multinacional anuncia novo investimento na fábrica em Avanca.

Foto
Nestlé tem três fábricas em Portugal João Paulo Gomes

Apesar de estarem mais racionais nos gastos e a conter as despesas, os portugueses continuam a não resistir às novidades das prateleiras. Dados recentes da Nielsen, empresa de estudos de mercado, revelam que quatro em cada dez consumidores incluíram um novo produto no carrinho na última vez que foram às compras. E, prova desta tendência, é o peso que os novos lançamentos e as actualizações de produtos representaram nas vendas da Nestlé em 2014.

Jacques Reber, director-geral em Portugal do gigante suíço, adiantou ontem que mais de 30% das receitas geradas no ano passado (um total de 461,3 milhões de euros) foram obtidas graças às inovações ou renovações. “Se nos referirmos apenas a inovações [novos produtos], o peso nas vendas é de 15%. Juntando as renovações, é acima de 30%. A visão de futuro é manter este peso entre 15 a 20%”, disse, à margem de um encontro com jornalistas na sede da multinacional, em Linda-a-Velha.

A actualização mantém as marcas atractivas e implica desde a criação de novos sabores, por exemplo, a embalagens mais modernas. Mas as novidades também impulsionam o consumo nos supermercados. A maior empresa de alimentação do mundo - que conseguiu ganhar quota de mercado o ano passado e, em Portugal, registou no primeiro trimestre a maior subida de vendas da Europa Ocidental - conseguiu ganhar clientes com o lançamento da nova Cerelac (para preparar com leite), um novo sabor de cápsulas de café ou ofertas adicionais nas pizzas. “Mais de 40% dos consumidores experimentaram um produto novo. A abertura dos portugueses continua a ser muito elevada”, diz Jacques Reber. 

De acordo com Susana Felgueiras, responsável da unidade de inovação na Nestlé, o ritmo de novos lançamentos é da ordem dos 100 por ano em Portugal, incluindo novas variedades. Nos cereais, por exemplo, a redução de açúcar utilizado na produção conta como actualização de produto. Citando dados da Nielsen sobre o mercado em geral, Susana Felgueiras lembra que apenas 2% dos novos produtos têm sucesso junto dos consumidores e a tendência actual é “acelerar a entrada da inovação no mercado”. Para potenciar novas ideias, a Nestlé criou um prémio interno para distinguir projectos pensados pelos trabalhadores e, entre 50 candidaturas, aprovou 35 que poderão, no futuro próximo, traduzir-se em produtos.

Um dos exemplos da Nestlé para demonstrar o retorno das inovações são os temperos já preparados da marca Maggi. No primeiro ano, foram vendidas 3,2 milhões de saquetas. Cinco anos depois, 13 milhões.

De acordo com Jacques Reber, em 2014 a empresa investiu no mercado nacional 16,5 milhões de euros e a média anual dos últimos cinco anos é de 15 milhões. As exportações representam mais de 16% no valor das vendas, ao mesmo tempo que 30% do que é produzido nas três fábricas que detém em Portugal é vendido a clientes estrangeiros. “Acreditamos no futuro da Europa. É o mercado que tem das melhores performances. E acreditamos no mercado português”, sublinhou o director-geral.
Cerca de 40% das vendas são conseguidas na área de café e bebidas (com marcas como a Nespresso), no retalho. Seguem-se os produtos comercializados nos restaurantes, bares e cafés, que incluem gelados (16%), e os produtos para animais. A Nestlé tem uma quota de 31,8% em Portugal e emprega 1895 pessoas.

Fábrica da Cerelac aumenta produção
A Nestlé vai fazer, este ano, um investimento na fábrica de Avanca, para aumentar entre 5% a 10% as vendas e as exportações de farinhas de cereais, onde se inclui a papa Cerelac. Jacques Reber, director-geral, não adiantou qual é o montante a investir, nem em que medida a produção irá aumentar, dizendo apenas que a intenção é “desenvolver o negócio da Cerelac e do Nestum”, pensando tanto nos consumidores estrangeiros, como nos nacionais.

Em Fevereiro do ano passado, a empresa investiu um milhão de euros em Avanca numa nova linha de produção de bebidas solúveis à base de cereais, que permitiu mudar o design de todas as embalagens das cinco marcas da multinacional desta categoria (como a Pensal ou o Mokambo). A quota de mercado deste tipo de produtos cresceu de 46,7% no primeiro trimestre de 2014 para 48,9% no mesmo período deste ano.

Além de Avanca, a Nestlé tem mais duas fábricas em Portugal, distribuídas pelo Porto (café torrado em grão) e Lagoa, na ilha de São Miguel, Açores (leite em pó). 

Sugerir correcção
Ler 3 comentários