Mais de 6500 pessoas resgatadas no Mediterrâneo durante o fim-de-semana

Agência europeia que vigia as fronteiras externas diz que vai intensificar operações. Em dois dias, foram interceptadas 34 embarcações.

6651 pessoas foram resgatadas entre sábado e domingo Jason Florio/AFP

Só durante o dia de sábado, a guarda costeira italiana coordenou o resgate de 3690 imigrantes que viajavam a bordo de 17 embarcações que pediam socorro, sete barcos de madeira, dez de borracha, a maioria ao largo da Líbia. Ao longo do fim-de-semana, 6651 pessoas foram resgatadas e pelo menos dez morreram – sete foram encontradas mortas nas embarcações, três afogaram-se depois de se lançarem à água quando se aproximava a ajuda.

Duas semanas depois da morte de perto de 900 pessoas na maior tragédia de sempre no Mediterrâneo, o fluxo das viagens acelerou-se, como esperado, com os traficantes a aproveitarem a acalmia das águas da Primavera. Foram interceptados 34 embarcações com pessoas que procuravam alcançar as costas europeias.

Amesmo tempo que quer a aprovação da ONU para agir militarmente contra os contrabandistas, destruindo os seus barcos na costa da Líbia, os líderes europeus viram-se obrigados a recuar no desinvestimento que tinham feito nas operações de salvamento.

Os náufragos de Abril, 1200 (1800 mortos desde o início do ano), renovaram as críticas à operação Tritão, lançada em Novembro e dirigida pela Frontex, a agência europeia de vigilância às fronteiras externas do espaço Schengen, e ao fim da operação de resgate Mare Nostrum, que permitiu às autoridades italianas salvar 170 mil vidas em pouco mais de um ano.

Enquanto a Mare Nostrum tinha um mandato para resgatar imigrantes e mantinha navios durante dias no mar, entrando e saindo das águas territoriais da Líbia, a Tritão, com um terço do orçamento (3000 milhões de euros por mês), concentrava os seus esforços junto às costas europeias. A escala da tragédia de há 15 dias levou a UE a atribuir à Tritão os mesmos 9000 milhões de euros que Roma gastava na Mare Nostrum.

Ao mesmo tempo, começam a chegar mais meios, embarcações e aviões. O navio de patrulha francês Commandant Birot participou pela primeira vez numa operação de resgate no sábado, salvando 219 imigrantes a bordo de três embarcações diferentes.

“Trabalhamos para aumentar o número de barcos e aviões. Pedimos e obtivemos a confirmação de vários países europeus, incluindo a França, sobre o envio de várias unidades”, afirmou aos jornalistas a porta-voz da Frontex Ewa Moncure, em Varsóvia, sede da agência europeia.

Dos mais de 6500 resgatados nos últimos dias, 3000 já desembarcaram nesta segunda-feira de manhã nas costas italianas. Reggio Calabria Messina, Lampedusa e Augusta, na Sicília, foram as cidades portuárias do Sul de Itália onde foram desembarcados.

O primeiro grupo de 873 pessoas, incluindo 103 mulheres e 52 crianças, chegou ao porto de Pozzallo, no extremo sul da Sicília. Na maioria somalis e eritreus, estes imigrantes foram levados para centros de acolhimento espalhados pelo país, em Roma, Milão ou Nápoles. A Marinha italiana anunciou também no Twitter, com uma foto, que um bebé nasceu a bordo da fragata Bersagliere.

MIlhares de detidos na Líbia
Entretanto, e apesar do caos que faz hoje da Líbia um Estado falhado, com dois governos rivais e dezenas de milícias e grupos terroristas que disputam o poder, a agência de notícias estatal diz que as autoridades detiveram cerca de 7000 imigrantes que procuravam alcançar a Europa.

Estarão agora em 16 centros de detenção, na região de Trípoli, em Misrata, que fica a cerca de 200 km para Leste, e noutros locais, disse à AFP Mohammed Abdelsalam Al-Qoueiri, responsável pela luta contra a imigração clandestina do governo instalado em Trípoli, liderado por uma coligação de milícias denominada Fajr Libya.

Segundo as Nações Unidas, em 2014 mais de 110 mil imigrantes passaram pela Libia.

“É importante compreendermos que cada vez mais e mais pessoas estão a fazer esta viagem para escapar à guerra e a perseguições. Só no ano passado, mais de 50% daqueles que chegaram de barco à Itália vinham da Síria e da Eritreia”, afirmou no fim-de-semana Barbara Molinario, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. “Tem de haver uma mudança, deixar cair o controlo de fronteiras como prioridade e fazer do resgate de vidas a prioridade.”

A França e o Reino Unido insistem na necessidade de atacar militarmente os traficantes e preparam-se para apresentar uma proposta formal a pedir autorização para um mandato deste tipo no Conselho de Segurança. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já disse discordar de uma operação com estes objectivos.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários