Estados Unidos ultrapassam Angola como mercado de exportações

Vendas de bens para Angola caíram 33% em Fevereiro.

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As exportações para Angola já tinham sofrido uma forte queda em Janeiro, e a tendência continua a verificar-se em Fevereiro. Neste último mês, as vendas caíram 33% em termos homólogos, para os 162,6 milhões de euros (-8,2% face a Janeiro), mostrando bem o impacto da crise que o país atravessa devido à queda do preço do petróleo (principal fonte de receitas e de divisas do país).

O valor registado em Fevereiro coloca o país africano no sexto lugar dos principais clientes de Portugal, quando em 2014 era o quarto maior mercado. Ultrapassada pelo Reino Unido em Janeiro, Angola viu agora os Estados Unidos passarem para o quinto lugar do ranking (com compras de 342 milhões de euros) numa análise dos dois primeiros meses do ano. Os Estados Unidos têm um peso de 17% no mercado extracomunitário, seguindo-se então Angola com 16,9%.

Para Paula Carvalho, economista-chefe do departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, os valores de Fevereiro “sugerem uma queda superior à que ocorreu em 2010, quando as exportações para Angola recuaram 15% (em termos médios anuais), [equivalente a] 337 milhões de euros”. Além disso, refere, “a situação actual parece também ter contornos diferentes tendo por comparação o comportamento do petróleo na sequência da crise financeira de 2008, pois nessa altura a recuperação foi mais célere. Efectivamente, a actual situação e os principais factores condicionantes — excesso de oferta e redução de necessidades de importação pelos EUA, sobretudo — sugerem que os preços não deverão recuperar tão cedo”.

Assim, destaca Paula Carvalho, “é possível que o ritmo de contracção das exportações portuguesas para Angola permaneça elevado ao longo do ano, até encontrar um novo patamar de estabilização”. “Repare-se que se antecipa uma queda do PIB de Angola, em dólares, em torno de 10% [em termos nominais] este ano, pelo que as necessidades de importações também recuarão proporcionalmente”, conclui.

Sobre o facto de Angola ter sido ultrapassada pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos como cliente, e se essa situação se vai manter, Paula Carvalho afirma que isso dependerá do preço do petróleo nos mercados internacionais. “Caso se confirme a sua estabilização abaixo dos 70 dólares por barril, como referem alguns analistas internacionais, será de esperar que o posicionamento do mercado angolano como parceiro comercial não regresse a posições cimeiras, sendo substituído por outros mercados”, refere.

Além disso, esta responsável destaca que “mesmo com níveis de preços do petróleo mais elevados e, portanto, maior poder aquisitivo, a estratégia dos dirigentes angolanos passará sempre pela aposta na diversificação da economia doméstica e na gradual substituição de produtos importados”. Assim, os exportadores portugueses devem diversificar os seus mercados de destino.

Este mês, deverá entrar em vigor uma nova linha de financiamento lançada pelo Governo, de modo a apoiar as empresas que estão com dificuldades em receber pagamentos efectuados na moeda local, afectando a sua tesouraria. O montante global disponível é de 500 milhões de euros, mas o valor máximo por empresa é de 1,5 milhões de euros. Actualmente, existem quase 10.000 empresas a exportar para Angola, das quais a maioria são PME.

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