Galp diz que é "tiro no pé" acentuar diferenças nos impostos sobre os combustíveis com Espanha

Reforma da fiscalidade verde deve avaliar custo económico de os portugueses abastecerem o carro em Espanha.

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Ferreira de Oliveira é o presidente da Galp Foto: Miguel Madeira

Com as propostas da reforma da fiscalidade verde ainda em consulta pública, o presidente da Galp Energia não se alonga muito a comentar medidas como a introdução de uma nova taxa de carbono, mas é enfático quando diz “por favor, equilibrem os impostos entre Portugal e Espanha”.

Na apresentação de resultados semestrais da Galp - cujos lucros caíram na primeira metade do ano, penalizados em parte pelas perdas do negócio de refinação e distribuição de combustíveis - o presidente da petrolífera defendeu que insistir na “divergência de preços com Espanha” é um “verdadeiro tiro no pé”.

Para muitos portugueses compensa andar dezenas de quilómetros para pôr gasolina em Espanha e esse abastecimento está muitas vezes associado à compra de bens alimentares, lembrou. “Há todo um efeito macroeconómico que se tem de analisar” antes de enveredar pelo “aumento da divergência” de preços, afirmou.

Na primeira metade do ano, o resultado líquido da Galp caiu 28,8% para 115 milhões de euros, pressionado essencialmente pelas áreas de refinação e distribuição, cujo resultado operacional caiu 55% para 78 milhões de euros. Se as margens de refinação estão “em níveis nunca vistos” (recuaram 85% no primeiro semestre para 0,4 dólares por barril), as exportações de combustíveis para fora da Península Ibérica também caíram no primeiro semestre, reduzindo-se 31% face ao período homólogo, ainda a reflectir a paragem de mês e meio para manutenção da refinaria de Sines. A expectativa, diz Ferreira de Oliveira é que no próximo trimestre regressem “à normalidade”.

A propósito das margens de refinação, o presidente da Galp reconheceu que a empresa terá a pagar menos de taxa de contribuição extraordinária sobre o sector energético do que os 35 milhões de euros que estimou inicialmente, pois a fórmula de cálculo encontrada com o Governo prevê que, quanto menor as margens de refinação, menor será o valor da taxa.

Segundo o gestor o aumento da procura dos combustíveis no mercado ibérico permite pensar que “o mercado está a dar sinais” de recuperação. Espanha ainda “vai à frente” de Portugal, mas os crescimentos nos mercados de gasóleo e lubrificantes são “bons indicadores” de crescimento actividade económica.

No negócio de venda de energia (cujo resultado operacional subiu 24%, para 201 milhões de euros), o crescimento mantém-se associado à venda internacional de gás natural, que já representa 50% das vendas totais de gás. Ferreira de Oliveira garantiu que “não existe qualquer negociação em curso com o Governo” a propósito dos ganhos com esta actividade de trading que o ministro da Energia, Jorge Moreira da Silva, disse querer que a Galp repartisse com os consumidores, através de reduções de preços.

Ainda no gás, a Galp e a REN anunciaram esta segunda-feira o acordo para a transferência da concessão de duas cavernas de armazenagem situadas em Pombal, por 72 milhões de euros. Um negócio que permite à empresa libertar capital para as actividades de produção e exploração de petróleo (que cresceram 57% para 140 milhões de euros) e desfazer-se de “activos regulados” que não fazem sentido “na estratégia de longo prazo da Galp”.

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