Saúde e reformas: o que falta resolver

A inovação fechada, pendurada na ideia de que “o segredo é a alma do negócio”, já não tem lugar no seculo XXI.

Passados mais de 20 anos desde a realização do I Fórum Internacional de Saúde, enquadrado na Normédica 94 sob o tema “O que mudou na saúde em Portugal?”, coloca-se a questão - muito, pouco ou quase nada?

Recordo aqui as palavras do então Ministro da Saúde, Paulo Mendo, que afirmava nesse mesmo fórum, no painel sobre Política e Economia da Saúde, que os problemas que se põe à volta de uma política de saúde são o peso do Estado, o peso do sector privado, o seu financiamento, a comparticipação ou não do utilizador, a provisão dos serviços, etc. Volvidos mais de 20 anos estas questões ainda não foram totalmente resolvidas.

Questionava ainda Paulo Mendo a propósito dos serviços prestados, se seriam do Estado ou se deveriam ser do sector privado. De facto, o ex-Ministro da Saúde considerava, e bem, que a modificação de um sistema de saúde tem implicações de ordem sociológica que extravasam a capacidade de executar uma reforma rápida. Volvidos mais de 20 anos, essa reforma não está concluída.

Muitas destas questões não foram nem vão ser resolvidas porque a dinâmica das mudanças no mundo da saúde é demasiado rápida e os ajustamentos lentos. Ao mesmo tempo que há necessidade de inovação disruptiva neste sector, esta implica problemas sociais e humanos.

Todos os dias há no mundo milhares de pessoas que têm ideias inovadoras sem que isso se traduza em benefício real, ficando estas ideias entre quatro paredes como chama a atenção Tina Rosenberg em “Ideas help no one on a shelf”.

A inovação fechada, pendurada na ideia de que “o segredo é a alma do negócio”, já não tem lugar no seculo XXI. Agora “uma ideia guardada é uma ideia desperdiçada”.

Já há muito que vimos a insistir nesta necessidade de uma linha verde para a inovação aberta, um Europass para as empresas que querem inovar e apresentamos à Comissão Europeia o documento Fair Cost Health Care com estas ideias.

Desde há muito que vimos a repetir que a inovação e a investigação científica são parte inteligente da actividade clínica e hospitalar bem como do ensino das ciências da saúde e o quão importante é a ligação das empresas às universidades (terceira via para o ensino pós-graduado).

Através da nossa plataforma Iberia Advanced Health Care temos vindo a pôr em prática esta metodologia mostrando o quão importante é ligar a saúde, a medicina, a engenharia e o desporto, a biotecnologia e a engenharia biomédica, a genética, os têxteis e o calçado, a talassoterapia, os autocuidados; o quão importante é para a saúde a prevenção da morte súbita, a prevenção das infecções hospitalares, a criação de dispositivos médicos para o mercado global. Que interesse fenomenal podiam ter a prevenção e rastreios no Golfe (seis mortes em 2015), a prevenção da morte súbita no running e nas ciclovias, a prevenção do risco no surf e no kaitsurf. E, novamente, os materiais inovadores, materiais inteligentes e biodegradáveis para cirurgia.

Um mundo, um vasto mundo de acções, interacções, incentivos, revelações de investimento e criação de emprego qualificado. Somos o país dos lasers inovadores, das técnicas cirúrgicas avançadas, da robótica, a Euro-região de excelência para a nanotecnologia, um território privilegiado para o turismo de saúde e bem-estar, as “ilhas verdes”, um espaço dinâmico intelectual de debate, de criatividade e de liberdade.

E o investimento? Sem investimento as ideias e a economia não avançam. Também aqui temos sorte em incorporar o espaço ibérico e da Europa. Os espanhóis controlam, por exemplo, a mais de 50 por cento 1843 empresas exportadoras portuguesas. Seguem-se a França com 528 e depois os Estados Unidos e a Alemanha num total responsáveis por 51 mil milhões de volume de negócios, ou seja, 30 por cento do PIB nacional e mais de 50 por cento das exportações para terceiros (dados apresentados no semanário Expresso). 

A Iberia Advanced Health Care tem feito este esforço de cruzar conhecimento e investimento, de aproveitar o que de melhor se faz em várias áreas, as ideias que surgem nas universidades, as teses de mestrado e o know how das empresas e ajudar a criar produtos inovadores para o mercado que vão solucionar problemas reais da sociedade.

Tina Rosenberg propõe que escolhamos uma ideia e a ajudemos a implementar, o que em termos práticos significa levar uma ideia da teoria à prática, pô-la a funcionar aqui e agora ou noutro local em situação semelhante.

“Se um homem imagina uma coisa outro a tornará realidade” – Júlio Verne.

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