OMS quer maços de tabaco simples, sem cor nem marcas

Maços de tabaco sem imagens de marca "matam o glamour, o que é apropriado para um produto que mata pessoas", argumenta directora-geral da OMS.

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As doenças provocadas pelo tabaco representam uma das maiores ameaças de saúde pública DR

 A introdução de maços de tabaco simples, sem cor nem logótipo, poderá salvar vidas, ao reduzir a sua atractividade, anunciou a Organização Mundial de Saúde (OMS), que cita a experiência em curso na Austrália desde 2012. Para marcar o Dia Mundial Sem Tabaco, que se assinala esta terça-feira, a OMS recordou, em comunicado, que o tabaco mata seis milhões de pessoas por ano em todo o mundo, o equivalente a uma pessoa a cada seis segundos.

Sob o lema "Preparem-se para a embalagem simples", a organização apelou aos países que proíbam o uso de logótipos, cores, imagens de marca e informação promocional nos maços de tabaco. Ao abrigo desta medida, os maços exibem apenas o nome da marca e do produto com uma letra padrão num fundo de cor pré-definida.

"As embalagens simples reduzem a atractividade dos produtos de tabaco. Matam o glamour, o que é apropriado para um produto que mata pessoas", argumenta a directora-geral da OMS, Margaret Chan, citada no comunicado. Para a responsável, a medida "restringe a publicidade e promoção ao tabaco, limita a etiquetagem enganadora e aumenta a eficácia dos avisos de saúde".

O primeiro país a aderir à embalagem simples foi a Austrália, em 2012, e a mudança terá contribuído, até Setembro passado, para uma queda adicional de 0,55 pontos percentuais na prevalência do consumo de tabaco nos maiores de 14 anos, de acordo com a avaliação da aplicação da medida pelas autoridades australianas. Esta redução equivale a dizer que mais de 108 mil pessoas deixaram de fumar, não começaram ou não recomeçaram a fumar nesse período.

O director-geral-adjunto da OMS para as doenças não transmissíveis e a saúde mental, Oleg Chestnov, disse que os resultados da introdução da embalagem simples na Austrália demonstram o grande potencial da medida: "Oferece um instrumento poderoso aos países, como parte de uma abordagem abrangente para lidar com o flagelo do consumo de tabaco".

"A embalagem simples está a tornar-se global, à medida que mais e mais países procuram os importantes ganhos em saúde que pode trazer às comunidades, disse, por seu lado, Douglas Bettcher, director da OMS para a prevenção das doenças não transmissíveis. A OMS lança esta terça-feira um novo guia para ajudar os governos a aplicarem a embalagem simples nos seus países.

"A maioria dos governos está comprometida com o objectivo de reduzir a epidemia e os danos associados ao tabaco, nomeadamente as mortes por cancro e por doenças do coração e do pulmão", afirmou Vera da Costa e Silva, directora da Convenção-Quadro da OMS para o Controlo do Tabaco.

As doenças provocadas pelo tabaco representam uma das maiores ameaças de saúde pública que o mundo já enfrentou. Cerca de uma pessoa morre de doenças causadas pelo tabaco a cada seis segundos, o equivalente a quase seis milhões de pessoas por ano. Estima-se que este número aumente para mais de oito milhões por ano até 2030, com mais de 80% destas mortes evitáveis a ocorrer em países de baixo e médio rendimento.

Nove mil euros/dia para deixar de fumar

Em Portugal, soube-se esta terça-feira, gastaram-se por dia uma média de nove mil euros em produtos para ajudar a deixar de fumar no ano passado, que ainda assim registou um decréscimo nas vendas de cerca de 10% face a 2014. São dados da consultora IMS Health que mostram que em 2015 os portugueses gastaram quase 3,3 milhões de euros em embalagens de produtos antitabagismo.

O consumo deste tipo de medicamentos ou produtos tem, mesmo assim, registado uma quebra desde 2012, ano em que foram vendidas mais de 216 mil embalagens. Já em 2015, o consumo não atingiu as 133 mil.

Na comparação de quatro anos, entre 2012 e 2015, as vendas de produtos para ajudar a deixar de fumar diminuíram quase 40% em unidades, com o valor das vendas a registar uma diminuição de 21% no mesmo período. A queda de vendas foi mais acentuada nas farmácias, com quebras superiores a 40% em termos de unidades, enquanto as parafarmácias registaram uma diminuição de 26%. Apesar desta diferença nas quebras, em 2015 as farmácias venderam quase 70% dos produtos antitabágicos.

As gomas antitabágicas são o tipo de produto para deixar de fumar com mais adesão, com 87 mil unidades vendidas em 2015 e um ligeiro aumento de 1% face a 2012. Já os comprimidos ou cápsulas, que há quatro anos eram os produtos mais procurados, sofreram quedas severas, de 78%, vendendo em 2015 cerca de 23.000 embalagens, contra as mais de 100 mil que se consumiram em 2012.