“O nosso foco é prestar cuidados na casa das pessoas”

Três perguntas a Manuel Lopes, coordenador para a reforma do SNS na área dos cuidados continuados integrados.

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"Nos cuidados paliativos precisamos de trabalhar muito para ter uma resposta adequada aos padrões europeus" Adriano Miranda

O coordenador para a reforma do SNS na área dos cuidados continuados integrados sublinha “o enorme esforço da sociedade civil” para montar uma resposta como a do Kastelo. “O Estado não investiu um cêntimo.”

Como é que demorámos tanto tempo a ter uma resposta deste tipo?
Esta é uma unidade de cuidados pediátricos integrados, uma resposta que não existia em Portugal e que resultou do enorme esforço da sociedade civil — o Estado não investiu um cêntimo. Foram pessoas com enorme capacidade de diálogo para irem ao encontro das nossas exigências, por isso o Ministério da Saúde só poderia ter uma resposta positiva. Na rede pediátrica este é o ponto de partida, mas queremos expandir progressivamente, com a domicialização dos cuidados e a articulação com os hospitais pediátricos. Estamos a ultimar um levantamento e em breve poderemos dizer com clareza de quantos lugares necessitamos. Estas crianças, por enquanto, ficam nos hospitais e nalguns casos muito especiais são criados espaços adequados nalgumas unidades de cuidados continuados de adultos.

Vai haver unidades semelhantes ao Kastelo noutros pontos do país?
Ainda estamos a trabalhar com vários hospitais centrais e ACES [agrupamentos de centros de saúde] no sentido de alargar esta experiência a todo o país, sendo claro que o foco destes cuidados tem que estar no domicílio das pessoas, até porque as famílias querem as crianças com elas. As recomendações internacionais apontam no sentido de não termos grandes unidades de internamento. O nosso foco é prestar cuidados na comunidade, na casa das pessoas, teremos pouca institucionalização, apesar de irmos sempre precisar de ter algumas estruturas de apoio. No terceiro sector [social] e no privado é provável  que apareçam algumas propostas, estamos abertos a iniciativas da sociedade civil, a rede não se pode restringir a uma região. Mas temos de produzir as alterações legislativas necessárias e criar uma rede de respostas e formar profissionais.

Quais são as metas para este ano no alargamento da rede de cuidados continuados?
Estamos a cerca de 55% da meta inicial, ainda longe dos nossos objectivos. Nos cuidados paliativos precisamos de trabalhar muito para ter uma resposta adequada aos padrões europeus. Nos cuidados continuados, vamos avançar este ano não só na área pediátrica mas também na saúde mental — nesta última, queremos ter capacidade para dar resposta a pelo menos 300 pessoas. Na rede geral esperamos conseguir dar resposta a mais 700 pessoas, mas isto dependerá das equipas domiciliárias. Em Lisboa, porém, ainda é necessário uma aposta forte na institucionalização, a cidade tem uma carência enorme. Cascais, por exemplo, tem zero camas.

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