Já não falta tudo
Já não falta tudo para passar o Inverno. Já não falta tudo para chegar a Primavera. Já não falta tudo para ser Verão outra vez.
Se calhar já piorou mas não me lembro de uma primeira semana de Fevereiro tão pouco escura e triste como esta.
As praias estão cheias de areia e as rochas estão tapadas. Tradicional e tragicamente é em Fevereiro que vem o temporal que tresmalha os grãos de areia para o mar e reaguça o feitio puritano e estraga-prazeres das rochas.
Em Lisboa, na sexta-feira passada, para quem observa o Shabbat, acenderam-se as velas a um quarto para as seis da tarde. O tempo está a melhorar. E a aproximar-se.
Quando se fala do facto de já termos passado os piores dias e as piores noites não só do Outono como do Inverno a resposta dos mais sábios não é dançar e estalar os dedos. É realçar nteligentemente que “já não falta tudo”.
Já não falta tudo para passar o Inverno. Já não falta tudo para chegar a Primavera. Já não falta tudo para ser Verão outra vez.
Por outro lado – um lado que, por ser outro, é sempre mais importante e ditador do que desejaríamos – também já não falta tudo para caírmos mortos e redondos, sabendo muito bem como.
Já não falta tudo para acontecer aquilo que, quer queiramos ou não (ou, indeed, estejamos vivos ou não), preferiríamos que nunca acontecesse.
Como me lembrou o meu amigo Nuno Pacheco, apesar de ser mais novo do que eu, cada Verão é um ano subtraído das nossas vidas. É por isso que os restos de cada ano são tão interessantes.
No fundo – sejamos claros ao menos uma vez por mês – a pressa envelhece-nos tanto como a preguiça.