«Há um genocídio cultural no Tibete», denuncia Dalai Lama

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Cinco mil pessoas esperavam Dalai Lama no Pavilhão Rosa Mota Estela Silva/Lusa

O convidado de honra da Porto 2001 - e que tanto embaraço provocou junto da classe política portuguesa nos últimos dias - falou sobre a situação “grave e séria” vivida no Tibete que, “em tom de brincadeira, pode ser descrita como ter um convidado que simplesmente nunca foi convidado”. Contudo, apesar do cenário traçado, Dalai Lama mostrou-se optimista em relação ao futuro. De acordo com a perspectiva do líder religioso tibetano, "a própria China, que é uma grande nação e tem uma imensa riqueza cultural, está a mudar. Os chineses estão a atravessar um período de transformação”. Essa transformação será, segundo Dalai Lama, o caminho para a libertação do Tibete, até porque “a solução da questão tibetana será também uma solução benéfica para a China”.
Dalai Lama aproveitou ainda esta intervenção para salientar que nenhum regime totalitário poderá sobreviver num futuro próximo: “No século XX, muitas nações pensaram em mudar o mundo através de regimes ditatoriais. Isso parece-me bastante irrealista. Não vejo qualquer futuro para os regimes totalitários. Tenho a certeza que a China vai mudar”.

Um monge humilde que comoveu a plateia

Com uma atitude humilde e simpática, desde o primeiro instante em que entrou no Pavilhão Rosa Mota, o monge tibetano fez questão de começar a palestra por pedir à assistência para que não tivesse grandes expectativas e para não pensarem nele como pensariam em alguém que conseguisse fazer milagres. Dalai Lama insistiu para ser olhado apenas como um ser humano igual a qualquer outro presente no pavilhão, porque, segundo explicou, “só assim poderá existir verdadeira comunicação”. Uma atitude que emocionou todos os presentes e valeu ao monge tibetano uma ovação de pé.A intervenção de Dalai Lama, sob o tema “Percursos Éticos no Futuro” — a palestra que encerrou a “Linha da Ética” do ciclo “O Futuro do Futuro”, da Porto 2001 —, centrou-se nos dois planos da existência humana: “o plano físico (que nos aproxima do animal) e o plano mental (que nos fornece a razão e, consequentemente, as emoções)”. Segundo Tenzin Gyatso, o homem tem de nivelar estes dois planos de forma a conseguir atingir a felicidade, “à qual tem todo o direito”.
“Desenvolver em simultâneo a inteligência mental e a sentimental é o caminho para o ser humano alcançar a felicidade que busca”, explicou Dalai Lama. Já o caminho para o desenvolvimento equilibrado dessas duas existências “só será possível quando o ser humano deixar de se iludir com as aparências e deixar de estar desfasado com a realidade que o rodeia”, realçou. Num discurso em que a riqueza material foi várias vezes desvalorizada, o líder tibetano procurou passar a mensagem de que “apenas conseguiremos atingir a felicidade quando os outros, que não fazem parte do nosso mundo, também o conseguirem”.
Mas, Tenzin alertou para o facto de a inteligência poder ser mal ou bem orientada. Para explicar esta noção, Dalai Lama exemplificou com os ataques terroristas de 11 de Setembro nos EUA, “fruto de uma inteligência mal orientada”. Contudo, o líder espritual recusa-se a acreditar que quem o fez é “simplesmente um mau ser humano”. Isso, sublinha, não é verdade. “Porque todos nós temos o potencial para fazermos tantas coisas más quanto boas".

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