Cidadãos mais idosos e doentes vão quase oito vezes por ano ao médico de família

Estudo encomendado pelo Sindicato Independente dos Médicos indica que número de consultas nos centros de saúde aumenta com a idade e com doenças diagnosticadas.

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Rui Gaudencio

Os doentes dos 80 aos 89 anos com diabetes, hipertensão e depressão vão ao médico de família 7,6 vezes por ano, em média, segundo um estudo nesta quarta-feira divulgado pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

O número de consultas por ano varia de acordo com a idade, havendo um aumento progressivo com o avançar da faixa etária, quer para os utentes com diagnóstico de doenças crónicas quer para os que não têm doenças diagnosticadas.

Contudo, os utentes com diagnóstico de diabetes, hipertensão ou depressão apresentam um número de consultas por ano “muito superior” aos utentes sem diagnóstico em qualquer uma das faixas etárias, revela o estudo feito com o apoio do Gabinete de Estatística, Modelação e Aplicações Computacionais da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

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Adriano Miranda

Neste estudo foram utilizados dados de seis unidades funcionais dos cuidados de saúde primários, envolvendo mais de 85 mil utentes e quase 230 mil consultas em 2016. A análise permitiu perceber que os utentes que têm dois diagnósticos (entre a diabetes, hipertensão e depressão) apresentam mais consultas do que os doentes com apenas uma patologia diagnosticada.

O número de consultas por ano, segundo o estudo, varia entre 1,1 nos utentes entre os 10 e os 19 anos sem diagnósticos e 7,6 consultas nos doentes dos 80 aos 89 anos com os três problemas diagnosticados.

Na primeira infância, dos zero aos nove anos, o número de consultas por ano é em média de 2,2, semelhante ao que ocorre nos utentes entre os 40 e os 59 anos sem problemas diagnosticados. Entre os dez e os 50 anos, os utentes sem patologias vão duas ou menos vezes por ano ao médico de família.

Os médicos têm reclamado que as listas de utentes passem para um máximo de 1500 doentes por médico de família, pretendendo que haja factores de ponderação com base na idade e nos diagnósticos de diabetes, hipertensão e depressão.

“Torna-se necessário determinar novos factores e critérios de ponderação com vista à normalização da carga de trabalho associada a cada lista de utentes”, defende o Sindicato Independente dos Médicos.

Reduzir número de doentes por médico

O secretário-geral do SIM, Roque da Cunha, considera fundamental introduzir as patologias mais frequentes como ponderação nas listas dos utentes, indicando que o estudo agora divulgado vem “fundamentar a necessidade de reduzir as listas a um máximo de 1500 utentes por médico”.

Aliás, a redução da lista de utentes tem sido uma das principais reivindicações dos sindicatos médicos e esteve também na origem da greve nacional de Maio. Além disso, continua na lista de prioridades das organizações médicas nas negociações que decorrem com o Governo.

As listas de utentes por médico de família passaram de 1500 para 1900 utentes em 2013, no período de assistência financeira a Portugal e de intervenção da troika, tendo tido na altura o acordo dos sindicatos, com a condição de que seria por um período limitado de tempo.

O SIM recorda que este aumento representou um acréscimo de 27% na dimensão das listas de utentes, a que veio acrescer um aumento de 22% de utentes efectivamente utilizadores das unidades de cuidados de saúde primários, quando foram expurgadas das listas os utentes que não frequentam os centros de saúde.

“No total assistiu-se a um aumento de 55% do número de utentes utilizadores nas listas de utentes”, refere o SIM, considerando que este “aumento desastroso na carga de trabalho dos médicos” implicou um “estado elevado de exaustão emocional e impossibilidade de cumprimento dos tempos máximos de resposta garantidos”.

Aliás, segundo o sindicato, mesmo as unidades de saúde familiar (USF) acreditadas apresentam mais de 75% das consultas marcadas por iniciativa do utente com tempo de espera acima do máximo legalmente estabelecido.

O secretário-geral do SIM apela ao ministério da Saúde para que seja célere a abrir os concursos para os médicos recém-especialistas, de forma a dar médicos de família a mais utentes.

Roque da Cunha sustenta que o ministério da Saúde tem o dever de criar condições para tornar mais atractiva a medicina geral e familiar, fazendo com que os clínicos permaneçam mais tempo no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e evitando saídas antecipadas.

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