As primeiras uvas

Temos fruta muito boa em Portugal. É pena ser cada vez mais difícil encontrá-la. Pelo menos em Portugal.

Chegámos depois de uma longa viagem cheios de sede. E a nossa recompensa foi um cacho de uvas verdes que um amigo nosso tinha comprado. Eram grandes, sumarentas e deliciosamente aciduladas. É um prazer esquecido, este de matar a sede com fruta.

Julho é o mês em que comemos os sumos em vez de bebê-los: cerejas, morangos, ameixas e pêssegos. E uvas, uvas verdes e rijas, com a pele adstringente. Em sumo estas frutas são medíocres. Mas mordidas e chupadas estas frutas carnudas fazem água na boca, a que juntam o sumo explosivo que mata uma sede que tem quase um ano de idade.

Gosto de visitar as vinhas desta terra para ver como estão as uvas. Nunca são uvas de mesa. São todas para fazer vinho. Quando serão este ano as vindimas? Como serão os vinhos deste estranho ano que está a ser 2016?

As primeiras uvas de mesa, vindas do Algarve, ainda não estão sobrecarregadas de açúcar. É assim que gosto delas, quase azedas.

No Algarve dizem que ainda não prestam. Têm fruta tão boa e tão cedo que já se queixam que os figos acabaram e que agora têm de se contentar com os figos “do Norte”. O Norte, neste caso, pode ser o Baixo Alentejo. No Algarve o Norte é gigantesco.

É a Norte que sabem as primeiras uvas algarvias do ano. Do Norte mesmo. Do Norte a que se referem as pessoas que gostam de ser do Norte. Parecem irmãs das cerejas que são realmente irmãs das ameixas.

Temos fruta muito boa em Portugal. É pena ser cada vez mais difícil encontrá-la. Pelo menos em Portugal.

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