Alunos do secundário vencem concurso com teste de farmacológicos a baixo custo

Concurso acontece desde 1992 e registou este ano o maior número de participações. O grupo vencedor irá marcar presença numa feira internacional de ciência e engenharia nos Estados Unidos.

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Técnica permite testar em larga escala, e baixo custo, compostos farmacológicos em larvas Paulo Pimenta/PÚBLICO

Três alunos da Escola Secundária de Arouca, no distrito de Aveiro, venceram o 24.º Concurso para Jovens Cientistas e Investigadores, com o projecto que permite testar compostos farmacológicos, a baixo custo, recorrendo a um sistema de iluminação de larvas de moscas da fruta que detecta poluentes neurotóxicos e doenças neuro-degenerativas. O concurso, promovido pela Fundação da Juventude concede à equipa vencedora o acesso directo à competição "Intel ISEF", que se irá realizar-se em Los Angeles, EUA, em Maio de 2017.

"Começámos a trabalhar no projecto há mais de dois anos, depois de reparar que a maioria dos testes clínicos na área das Neurociências é realizada em moscas da fruta adultas que, para deixarem de voar e poderem ser observadas quietas, têm que ser anestesiadas", explicou o professor responsável pelo grupo, Filipe Ressurreição, em declarações à Lusa. Por isso, os alunos investiram no desenvolvimento de um mecanismo que permitisse testar esses mesmos ensaios clínicos em larvas dessas moscas, quando ainda não podem voar, dispensando a anestesia e simplificando o procedimento.

Filipe Ressurreição, professor de Biologia, conta que já existiam alguns mecanismos semelhantes, mas "eram ainda muito manuais”, uma vez que recorriam, por exemplo, à alimentação de larvas com comida alterada por corante preto, para permitir a observação através do contraste, o que dificultava a sua aplicação em larga escala. "Para trabalhar em massa é preciso sempre recorrer a software e, o que acontecia é que, aplicando luz às larvas, elas ficavam transparentes e não se conseguia detectar nada", justifica. 

Por isso, o projecto apostou no desenvolvimento de um sistema de transiluminação com luz fria, contrastando pela primeira vez de forma homogénea as reacções. Assim, através da técnica desenvolvida pelo grupo vencedor, será possível testar “em larga escala, a custos relativamente baixos e in vivo, um elevado número de compostos farmacológicos”.

A técnica desenvolvida pelo grupo de alunos do secundário pode ser aplicada em estudos de neuro-toxicologia ambiental ou de genética associada às doenças neuro-degenerativas. "Será útil, por exemplo, no teste de novos medicamentos, na detecção de poluentes com efeitos neurotóxicos e no estudo de doenças generativas como o Parkinson ou o Alzheimer", aponta o professor de Biologia.

Os três estudantes premiados, Beatriz Gomes, Mariana Garcia e Paulo Castro, irão receber um prémio no valor de 1250 euros. O professor responsável pela orientação do projecto é também premiado, no valor de 400 euros.

O segundo prémio foi dividido por dois projectos de alunos da Escola Secundária da Azambuja. O primeiro apresenta a utilização de casca da banana para reduzir a concentração de metais pesados, como o níquel, nos esgotos industriais, enquanto o segundo determina a quantidade de cálcio disponível na casca de ovo para criar um suplemento alimentar rico em cálcio. Também estes dois projectos terão destaque internacional, com o primeiro a acompanhar o grupo vencedor a Los Angeles e o segundo a marcar presença em Bruxelas. Com os últimos irá também o terceiro lugar do concurso: um estudo desenvolvido nos laboratórios de ciências da Escola Secundária Júlio Dinis, em Ovar. O grupo recorreu a moscas para estudar os efeitos do Omeprazol na memória e demonstrou a existência de possíveis efeitos de letargia ou confusão induzidos pelo consumo deste fármaco.

À 10.ª Mostra Nacional de Ciência chegaram uma centena de projectos, pelas mãos (e engenho) de 268 estudantes orientados por 57 professores, mas no total foram registadas 163 candidaturas, da autoria de 428 jovens com a coordenação de 82 professores, num total de 59 escolas envolvidas. Os números deste ano representam um crescimento de 43% relativamente à edição de 2015 e um número recorde de projectos em toda a história do concurso, adianta a Fundação da Juventude. A selecção dos projectos envolveu professores e investigadores de diversas áreas científicas e representantes da Direcção-Geral de Educação, da Agência para a Energia e da Agência Portuguesa do Ambiente.

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