Há cinco anos “ficou um bocado virado” e “nunca mais foi o mesmo”

Suspeito dos homicídios em Barcelos viveria isolado.

Foto
Nelson garrido

António Adelino Briote, o homem que se entregou às autoridades na sequência do quádruplo homicídio desta sexta-feira, vivia sozinho em Tamel (S. Veríssimo), Barcelos. Tinha regressado à freguesia há poucos meses, depois de ter estado internado na ala de psiquiatria do Hospital de Braga. Desde então, “pouco comunicava com as pessoas”, conta Nélson Cardoso, 37 anos, que vive a poucos metros da casa do presumível autor do crime: “Foi sempre um homem educado. Dava bom dia e boa tarde, mas pouco mais”.

Nem sempre foi assim. Ainda que Lino, como por aqui todos os conhecem, nunca tenha sido “homem de tascas”, ia ao café da aldeia quase todos os dias e ficava largos minutos a ler o jornal. “Era uma pessoa como as outras”, descreve Henrique Lima, septuagenário que, há dezena e meia de anos, presidiu à comissão de festas de S. Veríssimo. Briote era um dos seus ajudantes. Descreve-o como um parceiro “trabalhador” e “honesto”. “Não me lembro de ter causado nenhuma confusão”, diz.

Há cinco anos, “ficou um bocado virado”, ilustra Nelson Cardoso. Foi na mesma altura em que se separou da mulher com quem tinha estado casado cerca de 30 anos. “Nunca mais foi o mesmo”, concorda Paulo Gonçalves, 35 anos, outro habitante da travessa de S. Sebastião, onde aconteceu o crime na manhã desta sexta-feira. Deixou de ir com tanta frequência ao café e, mesmo quando era visto na rua, reduzia o convívio com os vizinhos ao mínimo.

Desligou-se dos vizinhos e da família

O isolamento acentuou-se depois da agressão à filha e à sogra. Desligou-se dos vizinhos, mas também da família. Na sequência da separação, em 2012, a ex-mulher tinha emigrado para França. Com os três filhos não tinha nenhum contacto. A mais velha, agredida em 2015, foi viver para Trás-os-Montes. Os outros dois ainda vivem no concelho de Barcelos, mas só o único rapaz, na casa dos 20 anos, continua a regressar a S. Veríssimo pontualmente para reencontrar amigos ou participar em algumas cerimónias dos escuteiros.

Antes disso, Briote tinha ficado desempregado. Durante mais de 20 anos, “ia na sua motinha para Barcelos todos os dias”, descreve Paulo Gonçalves. Trabalhava numa tinturaria mais perto da cidade. Como saía às 22h, tinha que usar aquele meio de transporte por falta de alternativa. Mas a rotina quebrou-se em 2009 quando a firma, afectada por mais uma crise na indústria têxtil, fechou portas.

Sugerir correcção
Comentar