Passos bate todos os distritos em Setembro já com os olhos nas directas de 2018

Ronda do líder do PSD inscreve-se na pré-campanha das autárquicas mas não deixará de contar para a provável disputa pela liderança do partido.

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Miguel Manso
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LUSA/LUIS FORRA

É uma volta de pré-campanha autárquica já com os olhos postos na possível disputa interna em 2018: Pedro Passos Coelho vai visitar todos os distritos do país durante o mês de Setembro. Uma ronda que aconchega o PSD a poucos meses de um congresso.

Com as eleições autárquicas a mobilizar o PSD, o líder do partido vai fazer uma volta por todos os distritos em apresentações de candidaturas. O périplo começa já no dia 28 deste mês – sexta-feira – e só termina no fim da campanha eleitoral, um mês depois. Passos Coelho estará três ou quatro dias por semana na rua e junto dos militantes e simpatizantes do partido. Resta assim pouca margem de manobra para outras figuras – nomeadamente Rui Rio – se passearem pelas estruturas do PSD a poucos meses de eleições directas para a liderança do partido. Essas eleições pré-congresso devem acontecer logo no início de 2018 e é possível que o ex-autarca do Porto seja o adversário do actual líder.

Já no mês passado, Passos Coelho tinha estado todos os fins-de-semana em apresentações autárquicas. Agora, o ritmo acelera. O líder do PSD parece não querer descurar o partido a poucos meses de ir a votos internamente. Esta volta a todos os distritos é vista como um sinal de que Passos Coelho quer dar luta ao seu provável adversário nas próximas directas e que não atira a toalha ao chão, independentemente dos resultados das eleições autárquicas.

O tema das autárquicas nem sequer foi assunto no discurso da rentrée na festa do Pontal. Sociais-democratas ouvidos pelo PÚBLICO registaram essa omissão mas lembram que a iniciativa é só uma rentrée e que a festa é sobretudo de uma região – a do Algarve.

Mesmo assim, houve quem gostasse do discurso mais político, de combate ao Governo e com menos números de economia ou de finanças. A duração da intervenção do líder – 50 minutos – continua a ser criticada mas os sociais-democratas parecem já conformados com isso. Apesar de reconhecerem que o discurso é longo, fontes sociais-democratas gostaram de ouvir Passos Coelho encostar o PS à “esquerda radical” e de criticar directamente o primeiro-ministro sobre o SIRESP. A pouca ou nenhuma euforia no calçadão da Quarteira é desvalorizada. O ambiente que se viveu na festa deste ano, como diz um dirigente social-democrata, está “dentro da conjuntura actual do partido”. Um partido perto das autárquicas, um teste eleitoral à liderança de Passos Coelho. 

Caleidoscópio de temas

Depois de ter entrado no recinto a dizer que “o PSD não precisa de fazer provas de vida”, quase no final do discurso Passos Coelho disse que no próximo Pontal o ouvirão falar dos mesmos temas porque daqui a um ano o Governo não terá feito nada sobre a reforma do Estado ou da Segurança Social. Também “passou ao lado de referências significativas sobre as autárquicas porque cada eleitorado responde cada vez mais a uma dinâmica local, e porque este não é um terreno em que o PSD esteja à vontade, já que arrisca-se a perder nos grandes concelhos”, realça o politólogo António Costa Pinto para dizer que houve ali uma “mensagem implícita”.

“‘Eu estou aqui para durar. Estarei aqui para o ano, depois das autárquicas e do congresso’ – foi esta a mensagem implícita que Passos quis passar, demonstrando que a sua prova dos nove são as legislativas de 2019”, disse ao PÚBLICO o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Passos Coelho já afirmou antes que o resultado das autárquicas não terá qualquer influência na liderança do partido, desvalorizando um possível mau resultado.

Costa Pinto diz não perceber a estratégia da escolha do dia do Pontal, considera que resultou mal, mas esta é uma tendência geral: cada vez mais é a classe política que tem que se adaptar às regras da TV e do futebol. Admite que para o desinteresse das televisões terá contado o “caleidoscópio temático” do discurso, em que Passos Coelho falou sobre uma panóplia de temas sem se focar verdadeiramente em nenhum – do SIRESP às reformas, da crítica da ideologia da geringonça à lei dos estrangeiros.

“Coerentemente, Passos criticou as nacionalizações e as soluções da Constituição de 1975, o estatismo, os direitos adquiridos, o funcionalismo público, reafirmou o modelo liberal – tudo o que seria de esperar. E até entrou pela lei da imigração, tema que habitualmente não está na prática política do PSD, procurando ocupar o espaço político da oposição de direita em Portugal”, refere Costa Pinto. “Falou de tudo e a mensagem principal, se a havia, perdeu-se pelo meio”, vinca o politólogo.

No domingo à noite, os canais noticiosos quase ignoraram o discurso de Pedro Passos Coelho na Festa do Pontal, a rentrée por excelência dos sociais-democratas. O líder do PSD começou a falar às 21h30 e espraiou-se por 50 minutos. As televisões transmitiram apenas uma parte da sua intervenção e cortaram a emissão de Quarteira para colocarem no ar programas de análise à jornada de futebol. Ironicamente, a reacção mais acesa durante o discurso foi uma leva de assobios vinda de uma varanda. “Cheira-me a futebol”, comentou o líder do PSD.

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