“As propostas do PCP são tão sociais-democratas como as nossas”

Catarina Martins coloca ao Bloco como um partido socialista, mas reconhece que as propostas do BE são, “neste contexto”, sociais-democratas.

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“As propostas do PCP são tão sociais-democratas como as nossas” Frederico Batista, São José Almeida, Sibila Lind, David Dinis

Como vê as críticas que dizem que a solução de apoio ao Governo que existe em Portugal é do passado e que representa uma esquerda radical que foi derrotada na Europa?
Quem acredita no modelo económico neoliberal que a União Europeia tem quer mantê-lo e quer protegê-lo. E eu julgo que tem havido uma caricatura das opções políticas que é muito perniciosa para a democracia. Querem dizer que quem não aceita este caminho de integração europeia forçada (que tem como política as privatizações, a desregulação, a liberalização dos vários sectores), ou vive no passado e não percebe qual é o progresso, ou é um populista xenófobo. Isso é de quem quer proteger o ‘estado de coisas’, mas não responde nunca às preocupações de quem não tem emprego, de quem tem baixos salários, dos países cujas economias são absolutamente destruídas pela desregulação e pela liberalização. Acho que a esquerda deve recusar aceitar esse tipo de forma pequenina de ver a política. A História não acabou, estamos cá para a fazer.

O BE em alguns pontos aproxima-se do ideário social-democrata. Considera que a crise da social-democracia é resultado apenas da aproximação ao neoliberalismo?
Para dizer a verdade, o BE é um partido socialista.

Socialista democrático?
Sim.

Portanto, próximo da social-democracia?
Sendo que não é um partido social-democrata, mas é verdade que as propostas que nós fazemos no actual contexto são quase todas elas propostas sociais-democratas e nós sabemos isso. Não desistindo nós de um ideal, de um caminho para o socialismo, nunca abdicamos de, na relação de forças concreta, fazer propostas que possam melhorar a vida das pessoas agora. Ou seja, nós não esperamos que os amanhãs cantem para os nossos netos, esperamos poder fazer mudanças concretas também hoje.

Isso é uma crítica ao PCP?
Não, de maneira nenhuma. Eu acho que o PCP tem feito o mesmo, aliás, as propostas do PCP são, desse ponto de vista, tão sociais-democratas como as nossas, porque também estão, naturalmente preocupados com as condições de vida concretas hoje das pessoas. Nunca significa abdicar de um projecto de prazo, de um outro projecto de sociedade. Mas significa que sabemos que o caminho para esse projecto se faz actuando sobre o dia de hoje e com a correlação de forças que existe. Agora, uma coisa é certa, o projecto social-democrata é impossível no momento em que deixa de existir controlo público sobre os sectores estratégicos da economia. Se temos o espaço da nação como o espaço em que há alguma democracia, mas abdicamos da maior parte das decisões para instâncias supranacionais ou acordos supranacionais, como é o caso do TTIP [Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento], sem fiscalização democrática, o mais certo é que essas instâncias não estejam muito preocupadas com os serviços públicos. Da mesma forma que quando um Estado não controla os seus sectores estratégicos fica sem os recursos financeiros necessários e sem a capacidade estratégica necessária para defender os meios necessários ao Estado Social. Portanto, a social-democracia minou-se a si própria.

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