A fotografia oficial do Presidente (também) fugiu ao protocolo

Marcelo queria uma fotografia em que tivesse o mar atrás de si.

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Imagem foi escolhido pelo Presidente, em conjunto com os seus chefes da Casa Civil e Militar Imagem cedida pela Presidência da República/Rui Ochoa
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Imagem cedida pela Presidência da República Imagem cedida pela Presidência da República/Rui Ochoa
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De repente, apareceu o sol, num dia chuvoso. A fotografia foi tirada no Palácio da Cidadela, em Cascais Foto cedida pela Presidência da República/Miguel Lopes

Foi no domingo, dia de temporal, no Palácio da Cidadela. Já tinha passado um mês sobre a tomada de posse e Rui Ochoa, fotógrafo oficial de Belém, sentia-se pressionado: as embaixadas, militares e polícias exigiam o retrato oficial do chefe de Estado para pendurar nos sítios oficiais.

Lá foram logo de manhã para Cascais, fotógrafos e todo o material, maquilhadora… o alfaiate não pôde ir e ainda não se sabia se a casaca obrigatória, comprada na altura do doutoramento do professor, ia servir. Serviu, embora apertada.

Começaram os preparativos: Marcelo queria uma fotografia com o mar ao fundo, mas a casaca – explicaram os homens do protocolo – é uma indumentária para usar só a partir do fim da tarde. A foto teria de ser de interior, como todas as dos Presidentes anteriores.

Era então preciso encontrar um lugar no palácio com grandes janelas e vista de mar. Encontrar a cadeira certa, a vista certa, o decór certo. Para ter o ângulo certo, foi preciso montar estrados. Luzes. Câmaras. Acção.

Marcelo entretanto passeava-se pelo palácio, cujos cantos aproveitou para conhecer. Já tinha o laço branco, a tricolor Banda das Três Ordens (de Cristo, de Avis e de Sant’Iago da Espada) atravessando o peito por baixo da casaca, a placa dourada do grande colar ao peito. Lá se fez a fotografia. Uma. Duas. Três. E ainda chovia, o céu de chumbo.

De repente, abriu-se o sol e o Presidente quis ir ao terraço. E foi aí que surgiu a fotografia certa, ainda que fugisse ao protocolo. O céu azul, as nuvens brancas, o mar ao fundo. Diferente em tudo das dos antecessores. Sem mãos à vista e com sorriso aberto. Ao ar livre, como Marcelo tanto queria.  

Vieram os chefes da Casa Civil e da Casa Militar, era preciso que todos concordassem. Viram-se todas as fotografias, vingou aquela. Quatro horas depois.

Agora já só falta passar da fotografia ao cartaz que será reproduzido em litografias, com as Armas de Portugal sobre a esfera armilar por cima da foto e o nome do Presidente da República por baixo. Mas até aqui o Presidente quis inovar e mandou gravar em braille o seu nome e cargo. E assim será.

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