O primeiro calor

Todos os anos há uma primeira tarde de calor em que o sol apanha-nos vestidos para o frio e guisa-nos nas nossas camisolas, com molho de transpiração.

Na Praia das Maçãs foi ontem, sábado. Almoçámos pela primeira vez com um amigo que tínhamos conhecido na mesma praia, ainda antes da Primavera.

Ele trouxe dois amigos de longa data e, depois de uma prova de cafés, almoçámos todos um cantaril cozido acompanhado por um fulgurante arroz de chocos.

Falámos do aquecimento global e do facto de nada ser como dantes. Falámos com saudades das neblinas que só se levantavam ao meio-dia, dos mares mais assassinos de outrora e doutras coisas que mudaram para melhor.

Quem nos visse julgaria que estávamos felicíssimos porque sorríamos e ríamo-nos e dávamos aos dente como gente grande. A praia estava linda, o céu estava azulíssimo e todos os elementos do encontro e da refeição eram perfeitos.

Ninguém tem tanto jeito como os portugueses para falar de coisas tristes num estado de exaltada e óbvia alegria. Quando alguém insistia em chamar a atenção para a maravilha do tempo e do lugar os outros concordavam mas diziam sempre "sim, sim, mas já não é a mesma coisa..."

Acabado o longo almoço continuámos o portuguesismo: desatámos a falar de comida. Foi como se almoçássemos lautamente para tirar a imensa fome, para podermos dedicarmo-nos, com objectividade, ao trabalho de lembrar refeições ainda melhores.

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