É nossa a cidadania

A identidade e cidadania pertencem a todas as pessoas portuguesas. Sermos distraídos pelo sexo das palavras é o princípio, infinito, do fim.

Nuno Pacheco tem escrito crónicas invejáveis sobre a nossa língua e a nossa ortografia.

No PÚBLICO de anteontem deliciei-me com "O sexo das palavras" e aquilo que ele escreveu sobre a proposta do Bloco de Esquerda de chamar "Cartão de Cidadania" ao Cartão do Cidadão.

Mas discordo. Tal como o passaporte, a carta de condução e o antigo bilhete de identidade acho bem que não indiquem o sexo ou género da pessoa.

Sou a favor do Cartão de Cidadania: é o cartão que confere cidadania portuguesa a todas as pessoas que a ela foram condenadas.

Agora é o género que interessa. O sistema binário masculino/feminino sempre esteve falido (nunca correspondeu à realidade) mas agora faleceu de morte natural. A fluidez entre géneros pode ser agora minoritária mas já é maioritariamente inteligente.

A Loja do Cidadão deveria chamar-se O Cantinho da Burocracia. A Loja do Cidadão e da Cidadã - tal como a mania de dizer "portugueses e portuguesas" sempre com os portugueses com pilinhas à frente das portuguesas com pachachas - é uma aberração.

As palavras deveriam aproximar-se das verdades, à medida que essas verdades mudam. Tudo o que nos une é lindo e tudo o que nos separa também.

Somos todos pessoas. Não há indivíduos e indivíduas. As palavras que nos juntam sem nos diferenciar são as mais bonitas de todas.

A identidade e cidadania pertencem a todas as pessoas portuguesas. Sermos distraidos pelo sexo das palavras é o princípio, infinito, do fim.

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