Cartas à Directora

Alguém me observa e…

De há uns tempos para cá, cada vez que o meu carro arranca, uma aplicação no telemóvel acorda e tenta adivinhar para onde vou, calcula o caminho, estima o tempo da viagem e informa-me sobre as condições do trânsito.

Para isto ser possível, estarão a ser gravados algures os meus padrões de deslocação. Isto incomoda-me. Não me recordo de ter dado autorização expressa para isso em momento algum. Começou espontaneamente após uma atualização qualquer. Constatei posteriormente, tratar-se de uma aplicação do “sistema”, que nem sequer descarreguei especificamente. Após investigação, encontrei então registados no aparelho os locais identificados como frequentes, com todo o detalhe das datas e horas de entrada e saída.

Incomoda-me “ser seguido” e essa informação ser registada. Há sempre a opção de ignorar as sugestões, sempre feitas com o nobre intuito de “nos ajudar”, de “melhorar a nossa experiência”, só que esse ignorar tem os seus limites. Quando alguém sabe algo (muito) sobre nós, para lá do que a nossa consciência assume, tem uma capacidade de influência maior do que imaginamos.

A minha qualidade de arbítrio depende de uma certa isenção e pluralidade da informação que me chega. Ficará comprometida quando, sem consciência disso, algo me observa … e, parte mais grave, me tenta dirigir! Esta brutal e não autorizada recolha de informação sobre onde passamos, onde almoçamos, o que compramos, o que lemos, etc., é uma ferramenta de modulação da sociedade … não controlada.

Carlos J F Sampaio, Esposende

 

Conversão de votos em euros

A generalidade dos portugueses não sabe que além da conversão dos votos em mandatos, há lugar a conversão dos votos em euros. Afinal, pagamos impostos e os partidos recebem por cada voto, acima dos 50.0000 entrados em urna,3,15 euros por cada sessão legislativa, além da subvenção estatal em caso de eleição de deputado ou formação de grupo parlamentar. Para as eleições para a Assembleia da República são disponibilizados 20.000 vezes o valor do Indexante de Apoios Sociais (IAS). Para as eleições legislativas regionais ficam ao dispor 4000 vezes o valor do IAS. Os valores destinados à campanha para as eleições para as autarquias locais variam conforme o número de eleitores. Os candidatos presidenciais também fazem contas. A lei nº 19, de 2003 do Financiamento dos Partidos Políticos e das Campanha Eleitorais disponibiliza 10.000 vezes o valor do IAS para as presidenciais (o mesmo montante para eleições para o Parlamento Europeu). Desse valor, 20% são igualmente distribuídos a cada concorrente presidencial. Os restantes 80% são distribuídos na proporção dos resultados eleitorais obtidos acima de 5% de votos. Quem se candidata por gosto não cansa. Os portugueses precisam da conversão de votos em solidariedade. Viva Portugal.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

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