Activista russo condenado a pena de prisão por denunciar guerra na Ucrânia e criticar Putin

Oleg Orlov faz parte do grupo Memorial que integra as instituições que venceram o Prémio Nobel da Paz em 2022.

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Oleg Orlov foi condenado a pena de prisão Reuters/Tatyana Makeyeva
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O veterano activista pelos direitos humanos Oleg Orlov foi condenado a dois anos e meio de prisão por "desacreditar as Forças Armadas" ao protestar contra a guerra na Ucrânia e acusar o Presidente Vladimir Putin de estar a compactuar com comportamentos próximos do fascismo.

Orlov, líder do grupo de defesa dos direitos humanos Memorial, uma das 27 organizações que venceram o Prémio Nobel da Paz em 2022, foi acusado depois de ter participado em manifestações contra a guerra e de ter escrito um artigo intitulado: "Eles queriam o fascismo. Conseguiram-no."

"O veredicto demonstrou que o meu artigo era exacto e verdadeiro", disse Orlov, de 70 anos, enquanto era levado algemado após a sentença. Foi aplaudido por apoiantes na sala de audiências do tribunal de Moscovo, incluindo representantes de embaixadas ocidentais.

O Memorial, fundado em 1989, tem defendido a liberdade de expressão e documentado as violações dos direitos humanos desde o regime soviético até à actualidade. Depois de ter sido designado como "agente estrangeiro", foi proibido e dissolvido na Rússia em 2021. Segundo a acusação, Orlov demonstrou "ódio político à Rússia". No seu discurso de encerramento do julgamento, na segunda-feira, o activista lamentou o "estrangulamento da liberdade" no país, que designou como uma "distopia".

Em comunicado, o grupo declarou: "A sentença contra Oleg Orlov é uma tentativa de abafar a voz do movimento dos direitos humanos na Rússia e qualquer crítica ao Estado. Mas nós continuaremos o nosso trabalho." No mesmo documento, explicam que Orlov era um verdadeiro patriota. "No entanto, na Rússia moderna, tudo é invertido: a guerra é a paz, os apelos à paz são um crime e um aviso de que o Estado cultiva a violência é um 'crime de ódio'", referem.

Orlov foi acusado ao abrigo de leis aprovadas pouco depois do início da guerra na Ucrânia que previam penas de prisão para quem fosse considerado culpado de desacreditar as Forças Armadas ou de divulgar informações falsas sobre as mesmas. Ao mesmo tempo, o Presidente russo, Vladimir Putin, tem exortado os russos a darem provas de unidade e a terem cuidado com aquilo a que chama traidores pró-ocidentais, enquanto as suas forças conduzem o que diz ser uma "operação militar especial" na Ucrânia.

Os seus críticos dizem que a proibição de Memorial, que se tornou proeminente ao documentar os crimes estalinistas e ao trabalhar para reabilitar as suas vítimas, faz parte de um esforço mais vasto para eliminar a dissidência e reescrever a história do país. Os principais críticos de Putin estão todos na prisão ou no estrangeiro. O seu mais conhecido opositor, Alexei Navalny, morreu subitamente numa colónia penal, a 16 de Fevereiro.

Orlov foi inicialmente multado em 150.000 rublos (cerca de 1500 euros) por um tribunal distrital no ano passado, mas foi ordenado um novo julgamento depois de ter recorrido e de o Ministério Público ter pedido uma pena de prisão."Ele e eu criámos o Memorial juntos... Mas a coisa mais importante que criámos foi uma equipa. Uma equipa que vai trabalhar independentemente de o Oleg ser livre ou não. Por isso, vamos trabalhar. Viveremos", disse a sua mulher, Tatiana Kasatkina, no exterior do tribunal.

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