Jornalistas aprovam por unanimidade convocatória de greve geral

Congresso de Jornalistas defende de forma unânime mandatar sindicato para realizar a convocatória de uma paralisação total. A definição da data durante o congresso não foi consensual.

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A data da greve geral de jornalistas ainda não está definida Paulo Pimenta
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Os jornalistas portugueses presentes no Congresso dos Jornalistas mandataram, de forma unânime, o Sindicato dos Jornalistas para realizar a convocatória de uma greve geral ainda sem data definida. A paralisação total servirá para alertar para o estado do sector, “eternamente com salários baixos ou precários”, e para mostrar solidariedade para com os trabalhadores do Global Media Group, com salários em atraso e uma ameaça de despedimento colectivo.

Para definição da data vão ser consultados os delegados sindicais e as comissões de trabalhadores dos vários órgãos de comunicação social. No entanto, ficou clara a urgência da convocatória. O caderno de reivindicações está definido: “Por salários dignos, pelo fim da precariedade, por melhores condições para o exercício da profissão” e “pela defesa da dignidade do jornalismo”.

Entre as 24 moções apresentadas a votação neste domingo, três delas apelavam à realização de uma greve geral. As propostas foram fundidas numa única e os jornalistas resolveram avançar de forma unânime. O texto da moção Está na Hora de Parar: Avancemos para Uma Greve Geral refere que, “para momentos muito graves, gestos consentâneos”, e que “o momento é aqui e agora”. Está prevista a realização de uma manifestação simultânea para alertar para as condições de trabalho dos jornalistas. A primeira e única vez que os jornalistas fizeram uma greve geral foi em 1982, num momento em que o panorama mediático era substancialmente diferente e a digitalização ainda não era uma realidade nas redacções.

Ouvido pelo PÚBLICO, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Luís Simões, diz que esta decisão “é reveladora” e “a tradução do momento que vive o jornalismo”. Saudou a aprovação por unanimidade pelo plenário do congresso e compromete-se a encontrar agora uma data para a realização da greve, ainda que não se comprometa com um prazo para o fazer. Havendo sempre “o risco” de a greve se revelar infrutífera caso a adesão não seja significativa, Luís Simões apela à participação de todos os jornalistas, “dado o momento que atravessa” o sector.

Ainda assim, após um debate longo durante a tarde deste domingo, não foi possível chegar a um consenso no que toca à data proposta para a paralisação. O principal ponto de desencontro prendeu-se com a escolha do período de campanha eleitoral das eleições legislativas para a paralisação, que, apesar de constar da proposta inicial, não se revelou consensual entre os congressistas. O presidente do Sindicato dos Jornalistas promete agora encontrar a melhor data, salientando que “nenhuma será a ideal para todos”.

Foi ainda aprovada uma alteração ao código deontológico para que o jornalista rejeite explicitamente o clickbait e a desinformação. O plenário do congresso também aprovou os votos pela igualdade e diversidade dentro das redacções, pela salvaguarda da saúde mental dos jornalistas, pelo direito de os jornalistas em período de estágio assinarem as suas peças, pela protecção do nome e rosto dos autores e vítimas de crimes, pela defesa do trabalho dos fotojornalistas, de solidariedade com os jornalistas palestinianos e de pesar pelos jornalistas mortos em trabalho.

Durante quatro dias, o Congresso de Jornalistas reuniu, em Lisboa, cerca de 556 profissionais do sector. A crise do jornalismo foi um dos pontos principais de debate, numa altura em que vários partidos se comprometem a apresentar propostas nos programas eleitorais dirigidas aos media. Há sete anos que não havia uma reunião magna de jornalistas.

Artigo corrigido às 19h36: o Congresso juntou 556 jornalistas.

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