Oppenheimer e Succession triunfaram nos Globos de Ouro, Barbie e The Crown nem por isso

Christopher Nolan estreou-se no Globo de Ouro de Melhor Realizador, Succession igualou Mad Men e Ficheiros Secretos, Beef e Lily Gladstone fizeram história.

cultura,hbo,netflix,globos-ouro,televisao,culturaipsilon,
Fotogaleria
Matthew Macfadyen, Sarah Snook e Kieran Kulkin, de Succession MARIO ANZUONI/Reuters
cultura,hbo,netflix,globos-ouro,televisao,culturaipsilon,
Fotogaleria
Ayo Edebiri e Jeremy Allen White, de The Bear ALLISON DINNER/EPA
cultura,hbo,netflix,globos-ouro,televisao,culturaipsilon,
Fotogaleria
Steven Yeun, Lee Sung Jin e Ali Wong, de Beef ALLISON DINNER/EPA
Ouça este artigo
00:00
06:38

Oppenheimer, no cinema, e Succession, na televisão, foram os grandes vencedores da 81.ª edição dos Globos de Ouro, cuja cerimónia teve lugar esta madrugada em Los Angeles. O filme de Christopher Nolan sobre o pai da bomba atómica venceu cinco prémios, incluindo o de Melhor Filme Dramático e o de Melhor Realizador — após seis nomeações, é a primeira vez que Nolan, experimentado autor de filmes como O Cavaleiro das Trevas, A Origem ou Interstellar, por exemplo, recebe este galardão. Oppenheimer colheu ainda os prémios de Melhor Actor (Cillian Murphy), Melhor Actor Secundário (Robert Downey Jr.) e Melhor Banda Sonora (Ludwig Göransson).

Cillian Murphy, parceiro regular de Christopher Nolan — o actor irlandês e o realizador britânico vêm amealhando colaborações desde 2005, ano da estreia de Batman — O Início, o primeiro filme da trilogia do cineasta centrada no mais emblemático dos super-heróis da DC Comics —, não poupou nos elogios ao cineasta quando subiu ao palco para recolher o seu prémio e discursar. “Soube logo, na primeira vez que entrei no plateau de um dos seus filmes, que era diferente”, afirmou. “Dava para ver — pelo nível de rigor, pelo nível de concentração, pelo nível de dedicação, pela total falta de cadeiras para os actores se sentarem — que estava nas mãos do mestre e realizador visionário”, comentou, com algum humor.

Nolan, por seu turno, quis prestar um pequeno tributo, recordando que até este domingo apenas subira ao palco dos Globos de Ouro para receber o prémio do então já falecido Heath Ledger, cuja interpretação do vilão Joker no filme O Cavaleiro das Trevas, segundo capítulo da trilogia Batman e um dos seus derradeiros filmes, foi universalmente bem recebida.

Ao triunfo de Oppenheimer nas categorias cinematográficas correspondeu, na televisão, a glória de Succession, que venceu quatro prémios em cinco possíveis: Melhor Série Dramática, Melhor Actriz numa Série Dramática (Sarah Snook), Melhor Actor numa Série Dramática (Kieran Culkin) e Melhor Actor Secundário numa Série de Televisão (Matthew Macfadyen). Ficou por conquistar à última temporada deste fenómeno da HBO apenas a distinção de Melhor Actriz Secundária numa Série de Televisão.

Para vencer o Globo de Ouro de Melhor Série Dramática, a ficção de Jesse Armstrong sobre a poderosa família Roy e o seu império mediático​ bateu não apenas The Crown, como também 1923, A Diplomata, The Last of Us e The Morning Show. Esta foi a terceira vez que arrecadou tal distinção: também já vencera em 2020 e 2022, com as suas segunda e terceira temporadas, respectivamente. Com o prémio agora recebido, Succession iguala Mad Men e Ficheiros Secretos, tornando-se, a par destes títulos históricos, a produção com mais Globos de Ouro de Melhor Série Dramática.

Foi também com algum humor que Jesse Armstrong reflectiu sobre o fim do percurso de Sucession. “Decidimos que esta era a altura certa para encerrar a série e isso foi bastante agridoce, particularmente para mim, porque finalmente comprei sapatos adequados para entregas de prémios e esta pode ser a última vez que os uso. É agridoce, mas coisas como esta tornam a sensação mais doce”, referiu.

Barbie aquém do esperado

Se a vitória de Succession era previsível, já na categoria de Melhor Filme Musical ou de Comédia houve uma surpresa: o vencedor foi Pobres Criaturas, longa-metragem do grego Yorgos Lanthimos que inclui uma participação musical da fadista portuguesa Carminho, e não Barbie, de Greta Gerwig, que partiu para a cerimónia com favoritismo. E de modo igualmente surpreendente Pobres Criaturas bateu Barbie também na categoria de Melhor Actriz num Filme Musical ou de Comédia: Emma Stone triunfou sobre Margot Robbie.

O filme sobre a boneca da Mattel que se tornou um sucesso de audiências global estava nomeado em sete categorias, mas só conseguiu somar duas distinções: o prémio de Melhor Canção Original num Filme — What was I made for?, de Billie Eilish e Finneas — e um galardão novo, o de Feito Cinematográfico e de Bilheteira.

A noite também foi uma desilusão para Maestro, de Bradley Cooper, que não venceu em nenhuma categoria. A lista de premiados na área do cinema completa-se com O Rapaz e a Garça, de Hayao Miyazaki (Melhor Filme de Animação), Paul Giamatti, de Os Excluídos (Melhor Actor em Filme Musical ou de Comédia), Da’Vine Joy Randolph, também de Os Excluídos, cuja estreia em Portugal está marcada para 15 de Fevereiro (Melhor Actriz Secundária em Filme Musical ou de Comédia), Anatomia de uma Queda (Melhor Filme em Língua Estrangeira [francês] e Melhor Argumento [Justine Triet e Arthur Harari]) e Lily Gladstone, de Assassinos da Lua das Flores (Melhor Actriz em Filme Dramático). Gladstone tornou-se a primeira mulher indígena a vencer o prémio.

Na televisão, Beef, com uma noite perfeita (três vitórias em outras tantas nomeações), também fez história. Não só venceu o prémio de Melhor Série Limitada, Série de Antologia ou Telefilme, como amealhou, nessa categoria, os prémios de Melhor Actor (Steven Yeun) e de Melhor Actriz (Ali Wong). Os dois protagonistas desta minissérie da Netflix tornaram-se, respectivamente, o primeiro actor e a primeira actriz de ascendência asiática a levar para casa esses Globos de Ouro.

Beef segue duas pessoas que, após quase colidirem num parque de estacionamento, deixam esse incidente ganhar proporções absurdas nas suas cabeças e desenvolvem uma relação altamente antagónica, alimentada por um forte desejo de vingança. Na cerimónia, o criador Lee Sung Jin disse-se grato pelos acontecimentos verídicos que levaram à série. “Ela baseia-se num incidente real de fúria na estrada que aconteceu comigo, pelo que seria negligente se não agradecesse a esse condutor”, afirmou. “Senhor, espero que buzine, grite e inspire os outros durante anos a fio.”

A outra série vitoriosa da noite foi The Bear (Disney+), ficção sobre um chef de alta cozinha que se muda de Nova Iorque para Chicago, onde tem à sua espera a missão de tomar conta da casa de sanduíches do falecido irmão. Arrecadou a distinção de Melhor Série de Comédia, apesar de, como várias vozes na imprensa comentaram, primeiro a propósito da sua nomeação e, agora, a propósito da sua vitória, não ser exactamente uma comédia. Venceu também os prémios de Melhor Actor numa Série de Comédia (Jeremy Allen White, que interpreta Carmy “Carmen” Berzatto, o protagonista) e de Melhor Actriz numa Série de Comédia (Ayo Edebiri).

O trabalho de Jeremy Allen White em The Bear foi distinguido nos Globos de Ouro pelo segundo ano consecutivo. Nesta edição, os demais nomeados eram Bill Hader (Barry), Steve Martin (Homicídios ao Domicílio, série da qual é co-criador, juntamente com John Hoffman), Martin Short (também de Homicídios ao Domicílio), Jason Segel (Shrinking) e Jason Sudeikis (Ted Lasso).

O discurso do actor premiado começou por uma vénia àqueles que também estavam na corrida: “Não posso acreditar que estou nesta sala e que há aqui tantas pessoas que adorei e admirei tanto, durante tanto tempo.” Depois, choveram os agradecimentos do costume. White disse à equipa de The Bear: “Simplesmente, adoro-vos imenso. Devo ter feito algo de acertado nesta vida para estar na vossa companhia.”

Sugerir correcção
Comentar