Tumultos em França perdem intensidade, mas polícia mantém alerta

O número de detenções baixou no sábado à noite, mas houve episódios violentos, incluindo um ataque contra a casa de um autarca. Avó de Nahel pediu o fim da violência.

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A polícia francesa tem mobilizado um numeroso contingente nas últimas noites para travar a violência Reuters/JUAN MEDINA
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Pela quinta noite consecutiva, as principais cidades francesas voltaram a ser palco de tumultos violentos, motivados pela morte de um adolescente às mãos da polícia. As autoridades sublinham uma diminuição da intensidade dos protestos, mas as casas de pelo menos dois autarcas foram atacados durante a madrugada de sábado.

O Presidente francês anunciou na noite de domingo que receberá os mais de 220 presidentes de câmara das cidades atingidas pelos tumultos, bem como os presidentes da Assembleia Nacional e do Senado.

A polícia fez 719 detenções ao longo da noite de sábado, um número bastante inferior ao das duas madrugadas anteriores, em que foram detidas 1311 e 875 pessoas, respectivamente. O Ministério do Interior mobilizou 45 mil elementos das forças de segurança em todo o país para tentar prevenir novos actos de vandalismo e violência.

Ainda assim, os números divulgados pelo Governo mostram que a noite voltou a ser agressiva. Ficaram feridos mais de 40 polícias, foram incendiados 577 veículos, 74 edifícios tiveram algum tipo de dano e foram iniciados 871 incêndios em espaços públicos.

Os pontos que concentraram as incidências ao longo da noite foram sobretudo as grandes cidades, como Paris e os seus arredores, Marselha, Lyon ou Grenoble. Apesar da aparente acalmia, as autoridades prometem manter a vigilância e foram mobilizados 45 mil efectivos para a noite de domingo. “Houve obviamente menos danos, mas iremos continuar mobilizados nos próximos dias. Estamos muito concentrados, ninguém está a reivindicar vitória”, afirmou o chefe da polícia de Paris, Laurent Nunez. Em Paris, a polícia foi autorizada a usar drones para fazer a vigilância das ruas.

O episódio mais grave aconteceu numa localidade nos arredores da capital, quando um carro em chamas foi empurrado contra a residência do autarca da cidade de L’Hay-les-Roses, Vincent Jeanbrun. Na altura, o político do partido conservador Republicanos estava na Câmara Municipal, mas a mulher ficou ferida ao tentar fugir com os filhos e foi hospitalizada.

Jeanbrun condenou o que qualificou como “um acto de cobardia indescritível” e o Ministério Público abriu uma investigação por tentativa de homicídio. A primeira-ministra, Élisabeth Borne, deslocou-se ao local para garantir que o Governo vai estar ao lado dos autarcas e prometeu que nenhum acto de violência será ignorado. Praticamente todas as forças políticas condenaram o ataque ao longo do dia.

A casa do autarca de La Riche, na região metropolitana de Tours, também foi atacada durante a madrugada. Um grupo de assaltantes estava a tentar incendiar o carro do político quando foram surpreendidos pelo dono da casa.

Há alguns sinais de contágio a outros países, com a eclosão de alguns protestos semelhantes na Suíça e na Bélgica durante o fim-de-semana, embora em muito menor extensão do que em França.

A onda de violência foi desencadeada pela morte de Nahel, um jovem de 17 anos que foi morto a tiro pela polícia no início da semana passada durante uma operação rodoviária. O agente que baleou Nahel disse que não o fez para matar o jovem, mas sim para impedir que fugisse e pusesse em perigo outras pessoas, segundo o seu advogado. O caso foi visto como mais um exemplo de violência policial, sobretudo contra os jovens de comunidades tradicionalmente desfavorecidas das periferias das grandes cidades.

A avó de Nahel, cujo funeral decorreu sábado, quebrou o silêncio este domingo e deixou um apelo para que se ponha fim aos tumultos. “Nahel está morto, a minha filha está perdida, ela já não tem uma vida”, lamentou a mulher, identificada pelo canal BFMTV como Nadia. “Não destruam as escolas, não destruam os autocarros, digo-vos para pararem”, acrescentou.

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