Violência chega ao centro de Paris. Agente pede desculpa pela morte de Nahel

Mobilização de 40 mil agentes da polícia não evita terceira noite consecutiva de violência nas cidades francesas.

paris,mundo,franca,
Fotogaleria
EPA/JULIEN MATTIA
paris,mundo,franca,
Fotogaleria
EPA/JULIEN MATTIA
paris,mundo,franca,
Fotogaleria
Reuters/GONZALO FUENTES

França enfrenta a terceira noite consecutiva de violência urbana na sequência de mais um episódio de uso de força excessiva por parte das autoridades. Pelo menos 255 pessoas foram detidas, segundo dados conhecidos cerca das 01h30 locais (00h30 em Portugal continental), e há registo de confrontos e de actos de vandalismo em várias cidades. Os distúrbios, que têm tido como epicentro Nanterre e outras áreas da periferia parisiense, chegaram entretanto ao centro da capital, com desacatos e pilhagens na Rue de Rivoli e em Châtelet-Les Halles.

Quarenta mil agentes da polícia tinham sido mobilizados para reforçar a segurança esta noite nas principais cidades francesas, quase quadruplicando o número de efectivos da véspera.

Os confrontos mais violentos continuam a ocorrer em Nanterre, subúrbio de Paris onde Nahel M., um jovem de 17 anos de ascendência marroquina e argelina, foi morto a tiro pela polícia na manhã de terça-feira, ao volante da sua viatura, após ter ignorado uma ordem para parar, na sequência de alegadas infracções das regras de trânsito.

Na primeira noite de tensão, após uma vigília inicialmente pacífica, um protesto contra a violência policial degenerou em distúrbios, com barricadas nas ruas, carros incendiados e objectos arremessados contra agentes da autoridade. "Vingança por Nahel", gritaram os manifestantes, frase que também se lê em paredes e paragens de autocarro em Nanterre.

Os confrontos alastraram entretanto. Clamart, outra zona da periferia parisiense, está sob recolher obrigatório nocturno até segunda-feira. Montreuil e Clichy-sous-Bois também registam distúrbios. Em toda a área metropolitana, grande parte dos transportes públicos foram suspensos esta noite, após as 21h, depois de na véspera vários autocarros terem sido incendiados.

Fora de Paris, a violência atinge também bairros e subúrbios de Marselha, Nantes, Lille, Toulouse, Dijon, Lyon, Amiens e Saint-Étienne. De todo o país chegam imagens de lojas, edifícios públicos e automóveis incendiados.

Na vizinha Bélgica, a radiotelevisão RTBF noticia protestos também em Bruxelas, onde 15 pessoas foram detidas.

O incidente de terça-feira é apenas o mais recente em que há suspeitas de uso de força excessiva por parte da polícia francesa contra cidadãos de origem magrebina e africana. A este caso acresce a suspeita de uma tentativa de encobrimento. Num primeiro momento, a polícia disse que o agente que fez o disparo fatal contra Nahel M. reagiu a uma tentativa de atropelamento. No entanto, um vídeo divulgado nas redes sociais, e cuja veracidade foi confirmada pela imprensa francesa, mostra um agente a apontar a arma ao condutor quando o veículo estava parado. "Vais levar com uma bala na cabeça", diz o agente. No momento em que a viatura inicia a marcha, Nahel é baleado.

O presumível autor do disparo fatal, agente da polícia, encontra-se detido e está a ser formalmente investigado por homicídio, tendo pedido desculpa à família da vítima.

"Não me levanto de manhã para matar pessoas", disse, citado pelo seu advogado Laurent-Franck Liénard.

Num primeiro momento, o Presidente francês Emmanuel Macron condenou a actuação da polícia, qualificando-a de "inexplicável e imperdoável". No entanto, a violência em várias cidades, com a destruição de edifícios públicos, levou o Presidente virar o discurso e a agradecer à actuação das forças de segurança que têm tentado conter os confrontos. O ministro do Interior, Gerald Darmain, sublinha que "a resposta do Estado tem de ser extremamente firme".

Sugerir correcção
Ler 6 comentários