Direcção-Geral do Património abre processo de classificação do Padrão dos Descobrimentos

O monumento, que fica em vias de classificação, foi passado a pedra no período final da ditadura de Salazar.

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Na semana passada, o Padrão dos Descobrimentos voltou a ser vandalizado, com pichagens "de dimensão reduzida [que] não provocaram danos" Nuno Ferreira Santos

A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu o processo de classificação do Padrão dos Descobrimentos, incluindo a Rosa-dos-Ventos, em Lisboa, de acordo o anúncio publicado esta quarta-feira em Diário da República.

O anúncio relativo ao imóvel vandalizado, pelo menos, duas vezes nos últimos três anos está datado de 29 de Maio e assinado pelo director-geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos.

Em 2021, uma estudante francesa escreveu, em graffiti, "Blindly sailing for monney [sic], humanity is drowning in a scarllet [sic] sea lia [sic]", o que, numa tradução livre, podia ser lido em português como "Velejando cegamente por dinheiro, a humanidade afunda-se num mar escarlate".

Na semana passada, o Padrão dos Descobrimentos, uma obra da ditadura de Salazar que celebra os Descobrimentos feita numa época que Portugal ainda tinha colónias, voltou a ser vandalizado, com pichagens "de dimensão reduzida [que] não provocaram danos", como disse fonte oficial da empresa municipal EGEAC à agência Lusa. A pichagem mais recente, como noticiou o PÚBLICO na altura, atingiu não o corpo principal do monumento em forma de caravela estilizada mas a base de uma das esferas armilares que o ladeiam.

O teor da inscrição, que ocupou cerca de um metro quadrado de pedra, indicava que se poderia tratar novamente de obra de activistas, à semelhança do que sucedeu no Verão de 2021. “A nação que matou África, Wakanda4Ever”, escreveram os activistas, numa referência ao país imaginário do universo de banda desenhada Marvel localizado na África subsariana.

Em Fevereiro de 2021, o Fórum Cidadania LX apresentou um requerimento para a classificação do Padrão dos Descobrimentos, o que só veio a ter sequência em Junho do ano seguinte quando o Departamento dos Bens Culturais da DGPC propôs a classificação do edifício, a par da calçada envolvente.

De acordo com a DGPC, a proposta mereceu a concordância da Secção do Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura, o que levou o director-geral do Património Cultural a determinar, por despacho, a abertura do procedimento.

O Padrão dos Descobrimentos estava já incluído na Zona Especial de Protecção (ZEP) do Mosteiro dos Jerónimos e na ZEP do Museu de Arte Popular.

Situado à beira Tejo, o Padrão dos Descobrimentos foi desenhado pelo arquitecto Cottinelli Telmo e pelo escultor Leopoldo de Almeida para ser mostrado na Exposição do Mundo Português, que se realizou em 1940, tendo por objectivo ser "uma construção efémera" e não permanente, pelo que foi demolido em 1943.

"A ideia de reconstruir o padrão esteve presente desde que se inicia a desmontagem dos edifícios da Exposição e se planeia o novo arranjo urbanístico da zona, ideia bem acolhida pelo ministro [das Obras Públicas] Duarte Pacheco e que conta com a resistência de Cottinelli Telmo; o projecto vem a ser esquecido após a morte do ministro [em 1943]", pode ler-se na entrada sobre o Padrão na página da DGPC.

Em 1960, por ocasião da comemoração dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique, o Padrão dos Descobrimentos foi reconstruído em betão e cantaria de pedra rosal de Leiria, e as esculturas em cantaria de calcário de Sintra.

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