Catarina Martins acusa PS de “degradar a vida pública” e abrir alas à extrema-direita

Último discurso como coordenadora do BE com ataques cerrados ao PS e a garantia de que vai estar presente no futuro do partido.

Foto
No discurso de despedida, Catarina prometeu continuar a "caminhar aqui" MATILDE FIESCHI
Ouça este artigo
--:--
--:--

Catarina Martins fez o seu último discurso enquanto coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) na convenção nacional do partido, mas garante que não é uma "despedida" e que vai continuar a "caminhar aqui, como sempre". Entre um balanço dos últimos 11 anos à frente do partido e promessas de futuro, atirou-se à maioria absoluta do PS, que critica por se ter tornado no "padrasto de todo o populismo".

Acusando o PS de "arrogância", de degradar "a vida pública", de estar "enredado nos seus próprios erros" e "guerras internas", de promover um "modelo de economia e de injustiça social" ou de "contaminar todo o debate democrático", para Catarina Martins é o PS que contribui para "estender a passadeira ao regresso dos piores fantasmas do passado", isto é, ao crescimento da extrema-direita.

"A maioria absoluta do PS é tudo o que se podia esperar de uma maioria absoluta", afirmou. O PS "achou que chegara o seu momento cavaquista", ao "provocar uma crise política" para ter "maioria absoluta"​ e, "agora, não sabe o que fazer com a sua vitória", censurou.

Ficava assim explicada a "geringonça": o Bloco não se arrepende de ter feito, em 2015, um acordo com o PS para "salvar o país da direita", mas também não se arrepende da "coerência" de ter votado contra o Orçamento do Estado (OE) para 2022, que não respondia à "saúde" e aos "direitos laborais", depois de o PS ter recusado "qualquer acordo à esquerda".

E deixou um aviso para o futuro: "Fizemos o que tínhamos de fazer" e "faremos o mesmo sempre que nos disserem para escolher entre uma conveniência partidária e o cuidado que a democracia deve ao SNS ou ao direito de quem trabalha", afirmou.

A ainda coordenadora admite que a derrota eleitoral das legislativas de 2022 — em grande parte motivada pelo chumbo do OE — "deixou feridas", mas considera que é essa "coerência" do BE que também permite o "crescimento que já sentimos na rua e que até as sondagens já reconhecem".

Foi com optimismo que projectou os próximos tempos do BE, garantindo que continuará presente no futuro do partido e que o BE tem "força para o que está por vir" junto das "grandes mobilizações unitárias", como a "luta dos professores", "pela justiça e pela saúde", das "mais jovens gerações" ou pela "habitação". Perante a crise alimentada pela maioria absoluta, "há um país farto de chantagem e que está mais exigente", onde o Bloco vai buscar a "força da alternativa".

Mas não deixou de fazer um balanço da última década, em que esteve à frente do partido. "Revelámos escândalos financeiros, denunciámos a pirataria das privatizações e os banqueiros e CEOs que prejudicaram o país, combatemos a corrupção", "travámos despejos", "conseguimos o respeito na lei por todas as famílias", "juntámos trabalhadores das plataformas pelo direito a um salário", exemplificou. "Não falhámos à chamada, não falhamos ao nosso povo", resumiu.

Não faltaram também agradecimentos aos fundadores, como Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda, aos já falecidos João Semedo e Miguel Portas, às camaradas como Mariana Mortágua e Marisa Matias ou a Pedro Filipe Soares. O discurso foi recebido com palmas pelos militantes que Catarina Martins cumprimentou no final, visivelmente emocionada.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários